Primeiro, era só o PCP: os dirigentes comunistas acusavam o primeiro-ministro, Francisco Sá Carneiro, de ser um “burlão”, sem “um mínimo de vergonha” ou “honradez”, por ter uma dívida de 32 mil contos ao Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa (BESCL). O escândalo, com base em notícias sucessivas de “O Diário”, não era apenas sobre a existência de uma dívida, mas por esta ter sido supostamente perdoada. Depois, deixou de ser apenas o PCP, e as acusações contra o primeiro-ministro da Aliança Democrática (AD) passaram a ser verbalizadas pelo PS. O seu líder histórico, Mário Soares, também quis avançar com uma Comissão Parlamentar de Inquérito — como agora Pedro Nuno Santos quer fazer contra Luís Montenegro —, utilizando o escalão máximo da fiscalização política como primeiro passo antes de apresentar uma moção de censura. Mas o cenário piorou: o escrutínio jornalístico alastrou do comunista “O Diário” para o Expresso no verão de 1980, quando o semanário então dirigido por Marcelo Rebelo de Sousa publicou dois dossiês especiais dedicados às contas bancárias do chefe do Governo em que Francisco Pinto Balsemão, o dono do jornal, era ministro.
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Montenegro rei do drama, governo sob pressão: a história que não se repete?
Pela primeira vez, um primeiro-ministro apresentou uma moção de confiança por não querer ser “enlameado”. Sá Carneiro, José Sócrates ou Passos Coelho não o fizeram quando a sua “honorabilidade” esteve em causa. A diferença é que hoje não existe maioria absoluta, o Parlamento está fragmentado, há um partido populista e o ciclo noticioso é vertiginoso