Polidas pelo labor da síntese ou para não estalar o verniz do statu quo, as narrativas históricas eternizam os feitos louváveis dos grandes líderes e olvidam o discreto papel transformador dos comuns mortais. A sociedade organiza-se hierarquicamente como um formigueiro: a rainha, a única que pode ser fertilizada, assegura a reprodução e a continuação da linhagem, enquanto as operárias ficam encarregadas de todas as tarefas quotidianas, como cuidar dos ovos da monarca, zelar pela defesa e manutenção da colónia e garantir o transporte de alimento. Por carreiros, em fila, as formiguinhas trabalhadoras carregam um peso bem maior do que a sua frágil anatomia aparenta permitir. Em vários momentos, qualquer pessoa que esteja a ler este texto já se sentiu uma formiga operária, uma peça desvalorizada na engrenagem de um sistema maior.
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A inacreditável história das carreteiras, mulheres de Portugal que levavam o peso do mundo à cabeça
Na primeira metade do século XX, mulheres e meninas carregavam cadeiras empilhadas, mesas, roupeiros, todo o tipo de móveis que os marceneiros de Paredes, no distrito do Porto, tinham de despachar para cidades distantes. Falámos com Maria e Idalina, duas dessas mulheres de força