Globalização é uma daquelas palavras redondas naturalmente simpáticas que o discurso público e os regulares arremedos incendiários de uma juventude inquieta insistem em rodear de claros-escuros. Quase irremediavelmente, o fenómeno da globalização está adornado com a suspeita de uma conspiração dos ricos e poderosos contra todos os outros. Esta linda e longa palavra redonda assume as vestes de eminência parda e malévola do capitalismo, esse definitivo mau soberano, não passando a globalização da fábula visível que dissimula o puro poder do dinheiro, o agente na sombra do soberano que faz de alguns de nós cúmplices e dos muitos outros meras marionetas. E, no entanto, na sugestão de volume — esférico, na sua imagem de integração do todo planetário, até na alusão a um processo que tem tanto de comercial e material como de cultural —, a globalização exibe muito do que ainda alimenta os nossos melhores velhos sonhos iluministas: a esperança de um mundo mais livre e igualitário, mais próspero e mais justo e solidário. Se há algumas boas razões para escutar a “lenda negra” da globalização, muitas outras existem que não passam de simplismo populista e pura preguiça do pensar.
Exclusivo
Globalização: bênção ou maldição?
Se há razões para escutar a “lenda negra” da globalização, muitas outras não passam de simplismo populista e pura preguiça do pensar