Exclusivo

+E

Há muito que deixei de acreditar no Pai Natal, mas o Natal do futuro seria assim: um conto de José Gardeazabal

Nesse Natal que ainda pode acontecer haverá um cheiro clandestino a pais e mães a esconder prendas na sombra. Vão plantar-se árvores de Natal no pomar, crescidas de arbustos não reciclados. Os olhos eletrónicos e os altifalantes da virtude perderão o pio e colocarão a mão sobre os olhos, como os macacos. Nesse Natal, pressinto, as coisas serão diferentes [conto de Natal do Expresso]

Acreditem, isto vou contar-vos porque o vi com os meus olhos, os próprios. Passou-se no ano em que desapareceu o meu pai e se proibiu o Natal. O meu pai saiu de casa para voltar com presentes. Nunca mais voltou. Era Natal, noite, aquele dia mais ou menos exato em que certos homens abandonam a casa de família para se vestirem como personagem de bebida norte-americana. Barbas brancas. Barrete, calças e casaco vermelhos, bordejados a branco. Botas pretas e barriga falsa. Fui procurar o meu pai com os meus próprios olhos. Isto foi o que vi. Acreditem.