Pedro Burmester andava quieto e calado, a manter um silêncio escolhido, a dar aulas na Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo do Porto, a tocar com Mário Laginha e a solo, a semear calmamente para depois recolher. Mas eis que, a organizar papéis, encontrou a partitura das “Variações Goldberg”, que havia tocado e gravado há 32 anos. Gravou-as de novo. Viu que já não era o mesmo. E gostou do que viu. Aos 61 anos, um dos maiores pianistas portugueses ressurge na esfera pública com um disco que é uma prova de vida e um exercício de memória. Já não é o músico erudito de brinco na orelha que nos anos 80 recebeu “um excesso” de atenção mediática e que mais tarde presidiu à instalação da Casa da Música, sendo ao longo de uma década o seu artífice e porta-voz. Hoje, é um pai de quatro filhos e mestre de alguns alunos, e um pianista que ganhou o direito de só fazer o que quer. E o que ele quer é estar com os seus num espaço pequeno, no âmago da intimidade, a contrariar a velocidade do mundo. Falou ao Expresso sobre o cancro que o fez perder uma corda vocal e lhe ensinou a finitude. Roucamente, mas não tanto, fez a paz também com isso.
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Grande entrevista a Pedro Burmester: “A doença fez-me estar mais preparado”
Para ver quem é hoje em relação a quem era, gravou pela segunda vez as “Variações Goldberg”. E ficou satisfeito com as diferenças. Hoje, o pianista prefere a intimidade da família e do ensino ao estrondo do palco ou à intervenção cívica. Perdeu uma corda vocal para o cancro, mas, como diz nesta entrevista, aprendeu a finitude. Toca esta sexta-feira, 13 de dezembro, no Coliseu de Lisboa, com Mário Laginha