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A guerra do Chiado: o património e o turismo estão numa relação complicada

Viajámos pelas ruas do Chiado, em Lisboa, em pleno bulício natalício, e tentámos perceber como a arquitetura comercial que tanto carácter dá àquela área tem resistido à mudança acelerada dos últimos anos. Da Brasileira à livraria Férin, há vitórias, derrotas e até empates a declarar

Quando em criança vivia no centro de Lisboa, o meu pai, que tinha uma loja no Carmo, levava-me por vezes aos serões de trabalho dele. E era um ritual imperdível a ida à Brasileira para a bica, num intervalo do labor. Era então que ele me contava histórias sobre os que passavam junto da nossa mesa, escritores, figuras famosas ou castiças que por ali andavam… Lembro-me de ele me chamar a atenção para a mesa aonde tinha tido assento Juscelino Kubitschek, o Presidente brasileiro, na sua visita à cidade, com o tampo de mármore gravado com o nome e a data do evento (hoje está no piso inferior) e outras coisas que fixei. Recordo, por exemplo, a estranheza com que certa vez olhámos para uma nova fachada, bem iluminada, mesmo ao lado do café — a que exibia a grade-escultura metálica, dourada, concebida por Jorge Vieira, como portal de acesso ao Banco Fonsecas & Burnay. Um assomo geométrico de arte abstrata, moderna, que no Chiado de então não se percebia senão como estranheza… (foi removida não muito tempo depois, talvez por provocar intensos choques de gosto.)