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Diário de uma viagem em tempo de guerra: morte, resistência e arte em Lviv, na Ucrânia

O Expresso passou vários dias naquela que é, supostamente, a cidade mais segura da Ucrânia. Mas as marcas da ofensiva russa estão por todo o lado

Nas ruas de Lviv não há sinais óbvios de um país em guerra. Há cafés cheios e caça-turistas, mas os únicos turistas são ucranianos
Adrien Fillon/NurPhoto via Getty Images

Quando faço o check-in no hotel Leopolis, no centro histórico de Lviv, a rececionista relembra que a cidade tem um recolher obrigatório (da meia-noite às cinco da manhã) e indica-me o abrigo subterrâneo que deverá ser usado em caso de ataque. O abrigo era um antigo bar na cave do hotel e, segundo ela, tem todas as comodidades para descansar ou mesmo trabalhar em caso de emergência. A minha mulher repara no meu sorriso forçado e algo nervoso, que não consegui disfarçar. A Christina é correspondente de guerra e veterana de vários conflitos e para ela esta visita a Lviv — a centenas de quilómetros da linha da frente — não é mais do que another day at the office. Desta vez ela foi convidada pelo Lviv BookForum, um festival literário, no início de outubro, onde irá discursar. Decidi ir com ela. Eu não conhecia a Ucrânia e Lviv, a 70 quilómetros da fronteira polaca, é supostamente uma das cidades menos perigosas do país. O trajeto de carro, desde Cracóvia, demorou quatro horas (mais um tempo indeterminado de espera na fronteira). Depois das autoestradas polacas, subsidiadas pela União Europeia, as estradas ucranianas transportam-me para outro século, atravessando aldeias tristes com as suas igrejas com abóbadas douradas, como cebolas cortadas ao meio.