Era setembro de 1997. Faltava um mês para a entrega do Orçamento do Estado, quando o primeiro-ministro António Guterres convidou o rival e velho amigo Marcelo Rebelo de Sousa, presidente do PSD, para um jantar secreto na residência oficial de São Bento. Como aperitivo, serviu-lhe uma conversa sobre a moeda única europeia, mas o prato principal era a viabilização do Orçamento para 1998. Aquilo era uma negociação escondida, longe de olhares públicos, para encontrar uma saída airosa para os dois. Na verdade, ao contrário do que diz o mito, Marcelo não aprovou os Orçamentos de Guterres de olhos fechados, em nome desse bem maior que era o euro. Houve muita conversa privada com chantagem pública de parte a parte, tanto que o líder da oposição tinha a linha vermelha bem traçada: era contra uma medida do PS chamada coleta mínima do IRS e do IRC, que o levara a espalhar cartazes por todo o país, com uma daquelas frases orelhudas que os publicitários adoram. “Pena máxima para a coleta mínima”.
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Breve história do segredo na política portuguesa
A política vive entre a claridade dos holofotes e a sombra do secretismo mais obscuro. Há segredos para o bem e para o mal, mas haverá sempre segredos… Guterres chegou a mentir sobre um arranjo com Marcelo. Mas não há poder sem esconderijos