“Isto parece um romance de Kafka.” Mesmo a quem nunca tenha lido o escritor checo é permitido usar esta frase. E não soaria mal. Do muito que ele nos legou faz parte a sua inserção na linguagem comum, como um osso de outras eras arqueológicas profundamente incrustado na pedra. Sempre que o desconcerto humano advém de se estar preso numa engrenagem sem saída, que o homem se perde no labirinto das suas construções, que o sem-sentido espreita nos corredores das organizações, das repartições ou dos tribunais, e que a vida hesita entre a irracionalidade e a indiferença, aí está Kafka a fornecer-nos a palavra capaz de conter em si essa estranheza de rato a correr pela roda sem chegar a lado algum. E isto à sua revelia, pois escreveu milhares de páginas das quais só viu 300 publicadas, e desejou que as restantes fossem queimadas e varridas deste mundo.
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O homem inacabado: Kafka morreu há 100 anos, mas a sua obra é intemporal
Franz Kafka morreu aos 40 anos, exatamente há 100. Morreu antes de ser Kafka, mas deixou uma obra intemporal, e o seu nome incrustou-se na linguagem comum. Checo que escrevia em alemão, redigiu milhares de páginas, das quais só 300 foram publicadas em vida, e quis que a sua obra fosse queimada. Hoje, o desafio dos investigadores é distinguir o mito da pessoa real