De aprendiz de sapateiro a cirurgião na Escócia: as atribulações de um português na Guerra Peninsular
Nascido no século XVIII numa região pobre da Beira Interior, José Matias viveu a Guerra Peninsular por dentro. Primeiro como membro de uma milícia e depois como criado no exército de Wellington. Mais tarde fixar-se-ia na Escócia, tornando-se cirurgião. Deixou um livro com as suas aventuras e desventuras, publicado em 1833 na Grã-Bretanha, que merecia edição portuguesa
RETIRADA O quadro “Subugal on the River Coa” (1811), de Thomas Stauton St. Clair, retrata o momento em que as tropas britânicas se aproximam do Sabugal, onde persistia uma bolsa de resistência francesa – que é derrotada a 3 de abril de 1811, debaixo de um temporal, alcançando aquilo a que Wellington chamou “uma das mais gloriosas ações da guerra”
Em 1986 chegavam a Porto de Ovelha — uma pequena povoação do concelho de Almeida — James e Doris Wilde, em busca das raízes de um trisavô nascido 200 anos antes naquela freguesia, a 24 de fevereiro de 1795. Dele sabiam o nome, José Matias, e o dos seus pais: José Proença, nascido em Ade, e Teresa Pallos, natural da Miuzela. A chegada à freguesia do casal escocês veio despertar memórias antigas, contadas e recontadas por pais e avós. No imaginário popular, no tempo dos franceses, um rapaz teria sido levado para França. Um dia regressara e, para espanto de todos, fora capaz de curar muita gente. A história real não era bem assim, mas quase. Seria James Wilde — na posse de um livro publicado por este seu antepassado no Reino Unido em 1833 — quem, em traços largos, explicaria então quem fora José Matias.