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O camaleão: como o PCP ajudou a reabilitar um antigo censor do Estado Novo

Podia ter sido preso a seguir ao 11 de Março de 1975, mas uma oportuna ‘conversão’ permitiu-lhe sobreviver, com o apoio do PCP, que viu nele um bom e leal funcionário. A partir daí ocultou as suas convicções fascizantes, salazaristas e ultracatólicas, expressas no jornal “A Voz”. No regresso do patrão, exilado no Brasil, Lima de Carvalho já tinha outra posição na hierarquia do Casino Estoril, onde fez uma carreira fulgurante e por todos reconhecida, deixando para trás a pele de censor e ideólogo de extrema-direita. Ignorando o seu passado, o Estado democrático condecorou-o

Paulo Petronilho

Na única noite em que ficou alojado no Hotel Estoril Sol, Lima de Carvalho não pregou olho. Aconteceu poucos dias depois do fracassado golpe spinolista de 11 de Março de 1975. A família Teles acabara de sair do país, pois fora alvo de um mandado de captura dos sectores militares mais à esquerda. O secretário-geral da Sociedade Estoril Sol, que lhes merecia toda a confiança, nem avisado foi. “Não sabíamos se estávamos sob escuta”, justifica ao Expresso José Teles, filho de Manuel Teles, o presidente do grupo e genro de Teodoro dos Santos, o homem que ganhara o concurso para a concessão da exploração do jogo no Casino, em 1958. Pai e filho Teles fugiram de carro para Espanha, enquanto outro familiar, Jorge Teodoro dos Santos, preferiu a Inglaterra.