O recente acidente do Elevador da Glória, em Lisboa, trouxe para a ordem do dia a segurança de um dos mais emblemáticos meios de transporte da cidade. As informações já disponíveis permitem levantar hipóteses relevantes, ainda que se aguarde o relatório completo do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes Aeronáuticos e Ferroviários (GPIAAF).
O papel do cabo e a questão da redundância
Os dois veículos estão ligados por um cabo que passa numa polia no cimo da instalação, equilibrando-se mutuamente. Cada veículo tem uma tara de 14 toneladas podendo atingir as 17 toneladas com os passageiros. Com um declive médio de 18%, o cabo suporta esforços inferiores a 4 toneladas.
O cabo, com um modelo recente de seis anos, apresenta uma carga de rotura de 68 toneladas — valor muito acima do necessário — e é substituído ao fim de apenas 600 dias (num máximo de 54 mil ciclos). Este sobredimensionamento é de tal ordem que as duas carruagens, mais todos os passageiros, poderiam ser suspensos pelo mesmo cabo, como se fosse um elevador vertical, e ainda sobraria uma enorme margem de segurança. Ou seja, o cabo foi dimensionado como se tivesse de sustentar todo o sistema, mesmo sem plano inclinado. Este sobredimensionamento não substitui uma verdadeira redundância de sistemas.