Política

Tempestade Perfeita: IL diz que o primeiro-ministro "não pode deixar ruir a imagem das Forças Armadas"

Partidos à direita exigem explicações a António Costa sobre a acusação feita ao ministro dos Negócios Estrangeiros pelo arguido Paulo Branco, ex-alto dirigente do Ministério da Defesa. Chega pondera pedir comissão de inquérito, PSD não descarta

Rodrigo Saraiva, líder parlamentar da Iniciativa Liberal
ANTÓNIO COTRIM

Um ministro “seriamente diminuído para se manter à frente da pasta” dos Negócios Estrangeiros, na versão do PSD, sem “condições políticas” para estar no Governo, na versão Iniciativa Liberal, e um caso tão grave que, se o Governo não o esclarecer, obriga a “avançar com uma comissão de inquérito”, disse o Chega. Os três partidos à direita da Assembleia da República convergem na ideia de que o caso noticiado pelo Expresso, envolvendo João Gomes Cravinho no processo Tempestade Perfeita, é grave e fragiliza o ministro. Sem, para já, fazerem pedidos explícitos de demissão.

Dos três, o Chega foi o partido a ir mais longe nos pedidos de esclarecimento, pondo a hipótese, não recusada pelo PSD, de avançar com um pedido de comissão de inquérito ao Ministério da Defesa.

Os partidos falavam aos jornalistas nos Passos Perdidos, no Parlamento, em reação à notícia do Expresso, quando André Ventura considerou que o ministro “mentiu na comissão e mentiu ao Parlamento”, falando em “mentiras atrás de mentias no Ministério da Defesa” [Cravinho foi ministro dessa pasta antes de passar para os Negócios Estrangeiros] e acusou António Costa de “proteger Cravinho”.

Se o primeiro-ministro não o fizer, disse Ventura, “o Chega não terá outra opção senão avançar com uma comissão de inquérito ao que acontece no Ministério da Defesa”.

O PSD reagiu através do recém-eleito vice-presidente da bancada António Prôa. O deputado afirmou que “os governantes devem vir rapidamente dar respostas, esclarecer com transparência o que está a acontecer”.

Questionado, por isso, sobre o que pensa o PSD fazer caso o Governo não dê esclarecimentos suficientes, o deputado social-democrata não pôs de parte a hipótese da comissão de inquérito. “Todos os instrumentos são úteis”, respondeu Prôa, mas o PSD avaliará quais os mais ajustados.

“Desejamos e esperamos que o primeiro-ministro possa ainda fazer a sua obrigação, e prestar esclarecimentos, mas o PSD ponderará todos os mecanismos para que estes esclarecimentos sejam prestados”, disse António Prôa.

O primeiro-ministro não pode deixar ruir a imagem das Forças Armadas.” Foi assim que o líder parlamentar da Iniciativa Liberal (IL), Rodrigo Saraiva, reagiu esta sexta-feira no Parlamento à manchete do Expresso, que dá conta de que o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Cravinho, é implicado em caso de corrupção na Defesa.

Segundo o liberal, António Costa deve explicações ao país, uma vez que está em causa a “credibilidade” e “confiança” nas Forças Armadas.

Ao Expresso, Saraiva sublinhou que o partido disse desde o início da legislatura que João Gomes Cravinho não tinha condições se manter no Governo: “A cada dia que passa e por cada situação que vai sendo descoberta relativamente aos tempos em que tutelou o Ministério da Defesa fica mais evidente que não tinha e não tem condições para as funções que desempenha”, disse.

O “responsável político” tem um nome: “António Costa, que insistiu em mantê-lo no atual Governo”, insistiu.

Numa nota do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Gomes Cravinho, anterior titular da pasta da Defesa, afastou mais uma vez a ideia de ter estado envolvido no contrato celebrado entre a Direção-Geral de Recursos de Defesa Nacional e Marco Capitão Ferreira.