Um ministro “seriamente diminuído para se manter à frente da pasta” dos Negócios Estrangeiros, na versão do PSD, sem “condições políticas” para estar no Governo, na versão Iniciativa Liberal, e um caso tão grave que, se o Governo não o esclarecer, obriga a “avançar com uma comissão de inquérito”, disse o Chega. Os três partidos à direita da Assembleia da República convergem na ideia de que o caso noticiado pelo Expresso, envolvendo João Gomes Cravinho no processo Tempestade Perfeita, é grave e fragiliza o ministro. Sem, para já, fazerem pedidos explícitos de demissão.
Dos três, o Chega foi o partido a ir mais longe nos pedidos de esclarecimento, pondo a hipótese, não recusada pelo PSD, de avançar com um pedido de comissão de inquérito ao Ministério da Defesa.
Os partidos falavam aos jornalistas nos Passos Perdidos, no Parlamento, em reação à notícia do Expresso, quando André Ventura considerou que o ministro “mentiu na comissão e mentiu ao Parlamento”, falando em “mentiras atrás de mentias no Ministério da Defesa” [Cravinho foi ministro dessa pasta antes de passar para os Negócios Estrangeiros] e acusou António Costa de “proteger Cravinho”.
Se o primeiro-ministro não o fizer, disse Ventura, “o Chega não terá outra opção senão avançar com uma comissão de inquérito ao que acontece no Ministério da Defesa”.
O PSD reagiu através do recém-eleito vice-presidente da bancada António Prôa. O deputado afirmou que “os governantes devem vir rapidamente dar respostas, esclarecer com transparência o que está a acontecer”.
Questionado, por isso, sobre o que pensa o PSD fazer caso o Governo não dê esclarecimentos suficientes, o deputado social-democrata não pôs de parte a hipótese da comissão de inquérito. “Todos os instrumentos são úteis”, respondeu Prôa, mas o PSD avaliará quais os mais ajustados.
“Desejamos e esperamos que o primeiro-ministro possa ainda fazer a sua obrigação, e prestar esclarecimentos, mas o PSD ponderará todos os mecanismos para que estes esclarecimentos sejam prestados”, disse António Prôa.
“O primeiro-ministro não pode deixar ruir a imagem das Forças Armadas.” Foi assim que o líder parlamentar da Iniciativa Liberal (IL), Rodrigo Saraiva, reagiu esta sexta-feira no Parlamento à manchete do Expresso, que dá conta de que o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Cravinho, é implicado em caso de corrupção na Defesa.
Segundo o liberal, António Costa deve explicações ao país, uma vez que está em causa a “credibilidade” e “confiança” nas Forças Armadas.
Ao Expresso, Saraiva sublinhou que o partido disse desde o início da legislatura que João Gomes Cravinho não tinha condições se manter no Governo: “A cada dia que passa e por cada situação que vai sendo descoberta relativamente aos tempos em que tutelou o Ministério da Defesa fica mais evidente que não tinha e não tem condições para as funções que desempenha”, disse.
O “responsável político” tem um nome: “António Costa, que insistiu em mantê-lo no atual Governo”, insistiu.
Numa nota do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Gomes Cravinho, anterior titular da pasta da Defesa, afastou mais uma vez a ideia de ter estado envolvido no contrato celebrado entre a Direção-Geral de Recursos de Defesa Nacional e Marco Capitão Ferreira.