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Luis Pedro Nunes

O dia em que o Evereste morreu

A foto da fila de montanhistas simboliza a humilhação da Natureza. Vamos pagar caro a arrogância

@nimsdai project possible

Um sismo tinha abalado o Nepal duas horas antes. Estava por lá exatamente devido a outro que destruíra parte do país e arrasara o centro da capital, Katmandu. Até então, os Himalaias ainda não se tinham deixado ver, sempre cobertos. Após sobreviver a um abalo 7,8 na escala de Richter e a centenas de réplicas, talvez fosse de supor que nem daria importância à visão da cordilheira. Qual quê. Estávamos na pista do aeroporto quando olhei e senti-me pregado ao chão. Por mais que tivesse visto documentários, lido e cultivado uma vida de fulaninho blasé, aquela coisa era de deixar o queixo à banda: nem imaginava que o céu fosse tão alto, a rocha e a neve subissem assim e se alargassem por uma dimensão até perder de vista. Como se diz nestes momentos: “fiquei esmagado”. E quando levantámos voo fui colado na janela do avião durante uns bons 30 ou 40 minutos, enquanto seguimos ao lado da cordilheira. Foi o meu contacto com os Himalaias. Quando há dias vi a foto da fila de duas centenas de montanhistas a querer chegar ao topo do Evereste senti uma angústia horrível. Foi como se o planeta Terra tivesse desistido e acedido mirrar para o tamanho de um parque de diversões, a receber ordens do Instagram, dominado pelo plástico e dejetos humanos e pela vontade individual e ditatorial de cada um querer “provar qualquer coisa a si próprio”. A qualquer preço. Se possível barato. O que resultou numa tragédia coletiva e mais de uma dúzia de mortes.

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