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Opinião

O almirante inventou a roda?

O sistema democrático precisa de ser defendido, começando por reduzir o nível de demagogia em campanha. O descrédito dos partidos e das instituições democráticas, como o Parlamento e o Governo, começa exatamente nas promessas não cumpridas e é neste descontentamento que crescem os populistas de extrema-direita

Em Portugal, os governos caem por tudo e por nada, mas, aparentemente, só não faz sentido derrubar quem falhe de forma grave, fazendo o contrário do que prometeu ao povo que os elegeu. Não se trata de prometer um crescimento económico de determinada grandeza e ficar muito aquém; isso o povo julga nas urnas, nas eleições seguintes. Como julga os que prometem resolver os problemas na Saúde, na Justiça, na Educação… e pouco ou nada resolvem. É certo que isso contribui para o descrédito da política, mas, nesse domínio, não concorre, por exemplo, com a promessa de baixar impostos que se transforma num aumento mal chegam ao poder.

Vem tudo isto a propósito do candidato presidencial Marques Mendes, que, na entrevista à SIC, reagiu com estupefação à ideia do candidato Gouveia e Melo de usar a bomba atómica para resolver “um desfasamento grave entre os objetivos-prática do Governo e a vontade previamente sufragada pelo povo”. Ou seja, uma falha grave numa promessa eleitoral determinante para a vitória. O sistema viciado em falhar promessas é também o sistema que melhorou — e muito — a qualidade de vida dos cidadãos. É o sistema democrático, que precisa de ser defendido, começando por reduzir o nível de demagogia em campanha. O descrédito dos partidos e das instituições democráticas, como o Parlamento e o Governo, começa exatamente nas promessas não cumpridas e é neste descontentamento que crescem os populistas de extrema-direita.