Opinião

Alerta: a falta de comunicação pode ser fatal

Os impactos negativos gerados pelas falhas de comunicação entre Ministério da Saúde e profissionais que operam serviços essenciais, como o INEM, devem ser motivo de reflexão séria e de ações concretas, através de um canal de diálogo aberto e transparente

É impressionante como continuamos a desvalorizar o papel da comunicação na saúde. Estes últimos dias têm demonstrado de forma clara e preocupante que a falta de comunicação pode ter consequências gravíssimas e que pode mesmo levar à perda de vidas. A notícia que o Expresso nos traz na edição de 8 de novembro é assustadora e releva a falta de comunicação que existe por parte do Ministério da Saúde para com os profissionais que mantêm o nosso sistema a funcionar.

No que diz respeito à greve dos profissionais do INEM, o Expresso revela que o Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar contactou antecipadamente a tutela, mas nunca obteve resposta. Se todos foram notificados sobre uma possível greve, qual o motivo para que o Ministério não tenha reunido e ouvido as reivindicações destes profissionais de modo a travar um protesto com consequências diretas e graves para as pessoas? Foi por falta de tempo ou de atenção para com as necessidades destes profissionais de saúde?

Gostaria que esta pergunta não ficasse sem resposta, pois todos nós somos ou seremos utilizadores do Sistema Nacional de Saúde e devemos exigir respostas para situações que colocam em risco a nossa saúde, e em última instância, a nossa vida. E tudo por falta de uma comunicação aberta e clara entre todas as partes integrantes do sistema.

No início desta legislatura, através de um outro artigo, apelei a que este Ministério da Saúde fosse mais ouvinte e comunicasse mais com os profissionais de saúde, de forma a resolverem-se atentamente os problemas neste setor, chegando a consensos e a entendimentos que a todos beneficiariam. A bilateralidade da comunicação deveria ser o pilar e uma das maiores conquistas desta legislatura na área da saúde, mas estamos a perder a oportunidade e a correr constantemente atrás do prejuízo.

A comunicação entre o Ministério da Saúde e os profissionais de saúde deve ir além de respostas esporádicas e limitadas por crises. Um sistema de saúde eficaz necessita de um canal de diálogo regular, que permita antecipar e resolver problemas antes que se agravem. O problema das condições laborais no INEM e a necessidade de revisão das carreiras não surgiram de um dia para o outro, é uma questão antiga que tem levado a uma perda significativa de profissionais ao longo dos anos, pelo que é obrigatória uma abordagem pró-ativa, em que o Ministério acompanha periodicamente as condições de trabalho e realiza negociações com os profissionais, de modo a prevenir o desgaste e a promover ambientes de trabalho seguros.

Este silêncio permanente do Ministério, que só se manifesta quando já está instalada a crise, além de gerar desconfiança, coloca em risco a eficácia dos serviços de saúde, aumentando a tensão entre os muitos profissionais exaustos e que não têm o suporte necessário. E quem sofre as consequências? As pessoas que necessitam dos serviços de saúde e que ao assistirem às sucessivas greves e paralisações, se sentem inseguras e desamparadas.

É crucial que o Ministério da Saúde adote uma postura mais transparente e colaborativa com os nossos profissionais de saúde, que ouça as suas necessidades e preocupações e que chegue a um quórum que a todos beneficie. A comunicação constante e o envolvimento ativo por parte dos governantes não só evitam situações de rutura, como também fortalecem o Serviço Nacional de Saúde como um todo, garantindo uma assistência de qualidade e segurança tanto para os profissionais quanto para a população.