Opinião

Setembro veste-se de amarelo pela prevenção do suicídio

A prevenção do suicídio não pode ser circunscrita ao dia 10 de setembro, precisa de ser diária. Ter consciência da importância da saúde mental não é um papel exclusivo dos profissionais de saúde, é um dever cívico

“No caminho entre o trabalho e a minha casa passo sempre por aquela ponte, mas ontem dei por mim parado dentro do carro a pensar na minha vida, tive vontade de me atirar”, “Eu já pensei em acabar com a minha vida”, “A minha mãe matou-se, deixou-me a mim e ao meu irmão sozinhos”, “Vou matar-me no dia de anos do meu filho, quero marcá-lo para a vida”.

Estes foram alguns dos testemunhos que ouvi de crianças, adolescentes e adultos em contexto de consulta de psicologia. A cada ano cerca de um milhão de pessoas cometem suicídio, de acordo com a Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio e com a Organização Mundial de Saúde, sendo uma das principais causas de morte entre os mais jovens.

O Plano Nacional de Saúde Mental Português (2021) considera a prevenção do suicídio uma prioridade para a sociedade. Portugal tem-se mostrado alinhado com os objetivos União Europeia na prevenção do suicídio e na promoção da saúde mental, mas em termos práticos, será que os portugueses estão conscientes de que todos podemos ajudar a prevenir o suicídio.

É urgente que se estimule o conhecimento sobre o papel das emoções, que se ensine que não é sinal de fragilidade experienciar e partilhar emoções negativas, e que se passe a debater abertamente a importância da saúde mental. Para tal, é fundamental que os contextos educacionais, de trabalho, familiares, sociais e de informação deixem de ignorar esta temática. A prevenção do suicídio não pode ser circunscrita ao dia 10 de setembro, precisa de ser diária.

Ter consciência da importância da saúde mental não é um papel exclusivo dos profissionais de saúde, é um dever cívico. Pequenos gestos podem mesmo fazer a diferença – e é fundamental estar atento. Estar atento aos comportamentos dos outros e aos nossos, ouvir atentamente, não desvalorizar as nossas emoções ou as de quem nos é próximo, e é importante incentivar alguém a pedir ajuda. O princípio da preocupação com quem nos rodeia é estar atento e pedir ajuda.

Em Portugal, existem linhas de atendimento de ajuda gratuitas, como a linha de saúde 24 e a SOS Voz Amiga, que prestam auxílio técnico e especializado.

Admitir que não nos sentimos bem não é um ato de debilidade, mas um ato de força e coragem.