Guerra na Ucrânia

“Todos os alvos designados foram atingidos”: Moscovo garante que não tinha planos para atacar a Polónia

A Rússia descarta responsabilidades no caso da violação do espaço aéreo polaco com drones. Moscovo diz ainda que todos os alvos estabelecidos foram atingidos. Nem a Polónia nem a Alemanha acreditam que o incidente tenha sido “acidental”

A Polónia detetou pelo menos 19 violações do seu espaço aéreo
NurPhoto

Inicialmente, o Kremlin recusou-se a responder a perguntas sobre a incursão de drones russos que aconteceu durante a noite e violou o espaço aéreo polaco. Isto não está dentro da nossa competência, disse o porta-voz, Dmitry Peskov, durante a habitual declaração à imprensa. Esta é uma prerrogativa do Ministério da Defesa, acrescentou Peskov, esquivando-se ao assunto.

Questionado sobre a União Europeia (UE) e a NATO terem definido o incidente como provocação, prosseguiu: A liderança da UE e da NATO acusa diariamente a Rússia de provocação. Isto é frequentemente feito sem apresentar quaisquer argumentos, considerou.

Mas, depois de Peskov se ter recusado a responder aos jornalistas sobre a violação do espaço aéreo polaco, remetendo para o Ministério da Defesa essa competência, este comunicou: Os objetivos do ataque foram alcançados. Todos os alvos designados foram atingidos.

O Ministério da Defesa russo disse ainda que não havia planos para atingir alvos no território da Polónia, alegando que o alcance máximo dos UAV (veículos aéreos não tripulados) russos utilizados no ataque, que alegadamente atravessaram a fronteira com a Polónia, não ultrapassa os 700 quilómetros.

Também o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo rebateu o que descreve como mitos”, acusando a Polónia de espalhar essas alegações “para agravar ainda mais a crise ucraniana” e confirmando estar disponível para participar em quaisquer conversações entre Moscovo e Varsóvia.

A Bielorrússia, aliada da Rússia, já tinha atribuído a entrada de drones russos na Polónia à perda de rumo devido aos sistemas de guerra eletrónica. Minsk também admitiu ter abatido parte dos aparelhos no território bielorrusso e referiu que, enquanto russos e ucranianos trocavam ataques com drones, as forças bielorrussas “monitorizavam constantemente os veículos aéreos não tripulados que se desviaram da rota devido a interferências eletrónicas de ambos os lados”.

É uma versão diferente daquela que Volodymyr Zelensky apresentou, ao dar mais detalhes sobre a incursão noturna de drones russos na Polónia. De acordo com o Presidente ucraniano, às 0h50 (menos duas horas em Portugal Continental), o primeiro drone russo atravessou a fronteira para a Polónia. Pelo menos dois drones russos entraram na Polónia vindos da Bielorrússia, contou também Zelensky.

O número de drones russos que entraram na Polónia pode ​​ser superior ao anunciado anteriormente, chegando aos 24, segundo o Presidente da Ucrânia. Tanto Zelensky como o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Andrii Sybiha, ofereceram-se para ajudar a Polónia. Sybiha disse que os ucranianos partilharam informações sobre alvos aéreos. “Mas podemos aumentar ainda mais a nossa cooperação, melhorar o alerta precoce da Polónia e aumentar a segurança polaca contra tais incidentes. A Ucrânia está disposta a oferecer o seu conhecimento, experiência, tecnologia e outros tipos de assistência para fornecer segurança fiável, resistindo eficazmente às ameaças russas.”

A Polónia considerou a entrada dos drones russos no seu espaço aérea uma “ameaça a toda a UE e à NATO” e rejeita a teoria da falha técnica. O ministro dos Negócios Estrangeiros polaco, Radosław Sikorski, falou, em Varsóvia, num ataque sem precedentes, não só ao território da Polónia, mas também à NATO e à UE.

“Como sabem, os drones russos já invadiram o espaço aéreo polaco anteriormente, e não apenas os drones, mas também os mísseis de cruzeiro. Um deles, durante esta guerra, aterrou a 10 quilómetros de minha casa. Quando um ou dois drones o fazem, é possível que tenha sido uma falha técnica, mas, como disse, neste caso, houve 19 violações, e é simplesmente inimaginável que possa ter sido acidental.”

A Polónia invocou o artigo 4º da NATO para convocar uma reunião com os aliados sobre a ameaça que enfrenta. “Esta nova tecnologia de utilização em massa de drones é uma ameaça para toda a UE e para a NATO, e precisamos de a enfrentar em conjunto”, justificou o ministro.

O ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, manifestou uma posição semelhante: os drones russos que violaram o espaço aéreo polaco estavam claramente em rota e não precisavam de voar naquela direção para chegar à Ucrânia”.

Não há absolutamente nenhuma razão para acreditar que isto tenha sido um erro de correção de rota ou algo do género, transmitiu Pistorius, perante o Parlamento alemão. O ministro disse que os drones que entraram no espaço aéreo polaco estavam claramente armados. Os sistemas Patriot alemães estiveram envolvidos na resposta, usando os seus radares para detetar os drones russos, mas não dispararam qualquer míssil.

O ministro dos Negócios Estrangeiros do país afirmou que a Rússia não estava pronta para a diplomacia e, por isso, receberia “uma resposta forte”. Em conferência de imprensa com o seu homólogo neerlandês, Johann Wadephul afirmou: “Devemos e responderemos a isso com uma resposta clara.”

Ao início da manhã, a chefe da diplomacia da UE, Kaja Kallas, tinha considerado que os indícios iniciais sugeriam que a entrada de drones russos no espaço aéreo europeu tinha sido intencional e não acidental.

Até o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, aliado de longa data de Vladimir Putin, disse estar em total solidariedade com a Polónia após o ocorrido na noite passada e definiu como “inaceitável” a violação da integridade territorial polaca. O incidente prova que a nossa política de clamar pela paz na guerra entre a Rússia e a Ucrânia é razoável e racional, escreveu Orbán nas redes sociais.

Já o embaixador de Washington na NATO, Matthew Whitaker, assegurou que a Casa Branca defenderá “cada centímetro do território da NATO” face às violações do seu espaço aéreo.