Guerra na Ucrânia

Igor Khashin, o russo que recebeu refugiados ucranianos em Setúbal: “Não sou espião nem transmiti os dados à embaixada”

O casal russo suspeito de estar a recolher informações junto de refugiados ucranianos para ceder à Rússia garante que a sua associação já ajudou “milhares” de emigrantes desde 2002: “a maioria ucranianos, moldavos e russos”

Igor Khashin, cidadão russo que recebia refugiados ucranianos em Setúbal através da associação Edintsvo

O casal de russos sobre os quais se levantou a suspeita de que poderiam estar a recolher informações junto de refugiados ucranianos para ceder à embaixada da Rússia, Igor Kashin e Yulia Khashina, negam qualquer colaboração com entidades do país. “Não enviamos [dados] para qualquer autoridade russa, embaixada incluída. Não foi enviado e isso nem foi pensado”, garante Igor Kashin, em entrevista ao jornal “Público” e ao jornal “O Setubalense”.

Igor e Yulia dizem apenas ter participado no acolhimento de refugiados ucranianos porque era a única forma de demonstrar a “vontade de apoiar as pessoas”. “Tenho experiência de trabalho na área de imigração e no atendimento. Naquela altura, tudo começou de repente e ninguém estava preparado, também houve pessoas que nos contactaram diretamente e perguntaram o que se podia fazer”, explica Igor, salientado que os contactos partiram dos “próprios ucranianos”.

O casal diz ainda não ter sido constituído arguido na sequência das buscas da Polícia Judiciária à Linha de Apoio a Refugiados de Setúbal. “A Judiciária faz o seu trabalho, que faça o que deve fazer, nós não temos nada a esconder (...) Não sou espião nem transmiti os dados à embaixada”, diz Kashin.

Quanto à aproximação ao regime russo, Igor diz ser pelo “lado humano” e considera “irresponsável” apontar de que lado está. “Se é necessário dar uma ajuda humana às pessoas que precisam, refugiados e outras pessoas do Leste que também sofrem alguma perseguição ou pressão, eu ajudo. É incorreto e irresponsável dizer que eu estou por um ou outro regime. Eu estou em Portugal há 20 anos. Sou pró-humano e o que me interessa é o que vai acontecer neste momento a todas as comunidades em Portugal”. A esposa Yulia acrescenta: “Somos mais portugueses do que pró-outros”.

O casal fala, ainda, sobre a sua relação com a Embaixada da Federação Russa. “Ao longo dos anos estivemos sempre em contacto. E também tivemos contactos, até certo momento, com a Embaixada da Ucrânia”, explica Igor. Durante os 20 anos de existência da associação Edinstvo, liderada por Kashin, o casal diz ter ajudado “milhares” de imigrantes. “A maior parte da associação são imigrantes do Leste, sendo a maioria ucranianos, moldavos, russos. Mas russos são muito poucos”.