Soberania de estado ou regras da rede social, o que se sobrepõe? A empresa que gere o Twitter trabalhou a questão até tomar a decisão final na semana passada: de ora em diante, a rede social mais usada para o debate político vai impedir a “amplificação” de publicações de contas oficiais de governos que não respeitam a liberdade de expressão ou que estão em guerra. O governo russo foi o primeiro a ser visado pela decisão. A medida não interdita nem impede publicações do Kremlin, mas limita a divulgação através de pesquisas ou republicações dos internautas. “É o princípio do fim da Internet como a conhecemos”, antevê Gustavo Cardoso, professor de Ciências da Comunicação do ISCTE e investigador do Media Lab.
Nos anos 1960, a Internet tinha apenas por aspiração criar uma nova forma de comunicar. E do mesmo modo que não gerou logo ferramentas de cibersegurança que inspecionam pacotes de dados para procurar códigos maliciosos, começou por pautar-se pela liberdade de expressão – mesmo quando usada de forma abusiva, por governos que decidiram invadir o país vizinho, como acontece com o da Rússia.
Nos anos 1990, muitos dos sites e plataformas que operavam na Internet diziam, nos termos e condições de uso, que qualquer conflito em que fossem envolvidos teria de ser dirimido nos tribunais da Califórnia ou de qualquer outro estado dos EUA. Nos dias que correm, nenhum gestor de plataformas na Internet ousa invocar essa prerrogativa. As redes sociais alcançaram a globalização desejada pelos pais da Internet, possivelmente quando ainda se cruzavam nas ruas com hippies em protesto contra a guerra do Vietname. Mas, pelo meio, houve que encontrar forma de garantir um tom desejavelmente neutro para todas as latitudes. Até porque as plataformas fazem dinheiro com a venda de publicidade.