Não é fácil para os indígenas da Terra Indígena Vale do Javari fiscalizar aquela imensidão de floresta e centenas de rios. No Médio Javari, um rio de fronteira, que divide Brasil e Peru, o narcotráfico e o roubo de madeira pressionam as aldeias. Para tentar combater a ilegalidade no Médio Javari estão os Kanamari, que criaram o grupo Guerreiros da Floresta, formado por 36 homens. Eles se alternam na vigilância da região em expedições periódicas, com recursos próprios, sem apoio de políticas públicas. Em vez de serem protegidos, eles têm de garantir a própria proteção.
Os Kanamari (que se autodenominam “Tukuna”) são hábeis conhecedores dos furos [atalhos] nas águas para cortar caminho entre galhos, folhas, pedaços de paus e cipós [lianas]. Eles pisam em silêncio pelo emaranhado de árvores, procurando passagem debaixo de uma chuva fraca, depois de uma tempestade na madrugada. Era março deste ano e a Amazônia Real foi convidada para participar de uma ação de fiscalização dos indígenas. Esta reportagem faz parte do “Projeto Bruno e Dom” e é uma investigação colaborativa que reúne 16 veículos de 10 países. O consórcio, coordenado pela Forbidden Stories, entidade que investiga o trabalho de jornalistas assassinados, foi constituído após a morte do jornalista britânico Dom Phillips, em 5 de junho de 2022.