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Projeto Bruno e Dom

Pesca ilegal: a última investigação do jornalista que queria “salvar a Amazónia"

No dia 5 de junho de 2022, o jornalista britânico Dom Phillips desapareceu com o seu guia e amigo, o indigenista Bruno Pereira, no Vale do Javari (Brasil). Os seus corpos foram encontrados dez dias depois, após as confissões dos principais suspeitos: pescadores clandestinos. Durante um ano, o consórcio Forbidden Stories e os seus parceiros investigaram esta prática que ameaça os recursos naturais da Amazónia e a sobrevivência dos povos indígenas, que Bruno Pereira deu a vida para defender. O consórcio revela, pela primeira vez, a organização criminal por detrás do assassinato, assim como as suas possíveis ligações com o tráfico de droga

Alex-Rufino/OJO PUBLICO

Cécile Andrzejewski: Texto com : Mariana Abreu (Forbidden Stories), Sônia Bridi (TV Globo), Eduardo Goulart (OCCRP), Eduardo Nunomura (Amazônia Real), Rodrigo Pedroso (Ojo Público), Tom Phillips (The Guardian)

Na foto, Dom Phillips, de calças bege, havaianas e boné, tem o olhar pousado no seu interlocutor, que escuta cuidadosamente. Os dois homens encontram-se no coração da Amazónia, sentados em pranchas de madeira à beira do rio Itaquaí, no Vale do Javari. Atrás deles, atracadas no cais, observa-se uma meia dúzia de embarcações simples.

O homem de calções com quem conversa o jornalista britânico dá pelo nome de ‘Caboco’, ou ‘Caboclo’. É conhecido pelos indígenas da região pois costuma pescar clandestinamente nos seus territórios. Na foto, ‘Caboco’ sorri para o jornalista.

Dom Phillips encontrava-se ali em busca de informações para o seu futuro livro sobre os perigos que ameaçam a floresta tropical, no qual trabalhava há meses. O texto, que o jornalista pretendia intitular de “Como salvar a Amazónia”, abordava, entre outros assuntos, a pesca ilegal – daí a viagem ao Vale do Javari.

Mas o projeto de Dom Phillips nunca se concretizou. Dois dias depois da foto ter sido tirada, a 5 de junho de 2022, o jornalista e o indigenista Bruno Pereira, foram assassinados enquanto navegavam nesse mesmo rio Itaquaí, por pescadores clandestinos pertencentes à mesma comunidade que ‘Caboco’.