Internacional

Ex-presidente da Nissan e Renault Carlos Ghosn confirma que fugiu do Japão para o Líbano

“Não fugi da justiça. Escapei da injustiça e da perseguição política”, sublinhou. O ex-empresário ia ser julgado no próximo ano, estando acusado de desvio de dinheiro, fraude fiscal e gestão danosa. Apesar de ter sido obrigado a entregar o seu passaporte e de estar sob vigilância das autoridades, após pagamento de fiança, Ghosn conseguiu sair do Japão

KAZUHIRO NOGI/AFP/Getty Images

O ex-presidente da Nissan e da Renault Carlos Ghosn confirmou esta terça-feira que fugiu do Japão, onde enfrenta acusações de irregularidades financeiras, e se refugiou no Líbano para escapar da “injustiça e perseguição política”.

O antigo empresário, que mantém a sua inocência, ia ser julgado no próximo ano, estando acusado dos crimes de desvio de dinheiro, fraude fiscal e gestão danosa.

Apesar de ter sido obrigado a entregar o seu passaporte e de estar sob vigilância das autoridades, após o pagamento de uma fiança de 9 milhões de dólares (8 milhões de euros), Ghosn conseguiu sair do Japão. Segundo o jornal libanês “Al Joumhouria”, o antigo empresário chegou ao Líbano a bordo de um jato privado vindo da Turquia.

A sua esposa, Carole Ghosn, encontra-se com ele numa casa com guardas armados no exterior, revelou uma fonte próxima do caso citada pelo jornal “The New York Times”.

“Um sistema fraudulento em que se presume a culpa”

“Estou no Líbano e já não vou ser refém de um sistema judicial japonês fraudulento em que se presume a culpa, a discriminação é galopante e os direitos humanos básicos são negados em flagrante desrespeito pelas obrigações legais do Japão sob o direito internacional e os tratados a que está vinculado”, disse Ghosn em comunicado divulgado pela sua porta-voz.

“Não fugi da justiça. Escapei da injustiça e da perseguição política”, sublinhou, acrescentando: “Agora posso finalmente comunicar em liberdade com os media e anseio começar a fazê-lo na próxima semana.”

Com 65 anos, Ghosn é cidadão do Líbano, onde está legalmente protegido de extradição, e também tem cidadania francesa e brasileira. Passou grande parte da sua juventude em Beirute, onde goza de um grande apoio público.

Dentro e fora da prisão

No Japão, Ghosn esteve dentro e fora do cárcere desde que foi preso pela primeira vez em novembro do ano passado, tendo inicialmente passado mais de 100 dias detido. Naquele país, os suspeitos ficam em detenção provisória durante meses, frequentemente até ao início dos julgamentos. Segundo a acusação, o ex-empresário não reportou cerca de 82 milhões de dólares (73 milhões de euros) em salários e transferiu temporariamente perdas financeiras pessoais para a Nissan.

Em janeiro de 2019, Ghosn renunciou aos cargos de presidente e diretor executivo da Renault. Antes disso, a sua situação legal tinha-se complicado devido a novas irregularidades denunciadas pela Mitsubishi, uma das empresas que chegou a dirigir e que o acusou de ter recebido pagamentos “ilegais”.

Segundo as investigações, Ghosn recebeu um pagamento alegadamente irregular de 7,82 milhões de euros. Estas irregularidades estão relacionadas com as operações da NMBV, uma sociedade estabelecida na Holanda em junho de 2017 e cuja sigla incorpora as iniciais da Nissan e da Mitsubishi, constituída com o objetivo de criar sinergias entre as duas empresas.

Libertado a 6 de março após pagar uma fiança, Ghosn disse-se vítima de um golpe do conselho de administração. No mês seguinte, foi novamente preso depois de anunciar planos para a realização de uma conferência de imprensa. Ainda em abril, saiu da prisão mediante o pagamento de nova caução, ficando em prisão domiciliária e impedido de sair do Japão e de contactar a mulher.