Guerra no Médio Oriente

Barco da flotilha humanitária onde seguem portugueses foi atacado em Tunes: Governo diz estar a recolher informações

Não há indicação de feridos. Barco tem bandeira de Portugal: Miguel Duarte estaria na embarcação, mas Sofia Aparício e Mariana Mortágua não. Governo português diz estar a recolher informações sobre o sucedido

Mariana Mortágua na noite eleitoral do Bloco de Esquerda na Casa do Alentejo
ANTONIO PEDRO FERREIRA

Uma das embarcações da flotilha solidária de ajuda humanitária a Gaza, que conta com portugueses na comitiva, foi atacada "aparentemente por um drone" no porto de Tunes, denunciou no início da madrugada desta terça-feira a relatora especial da ONU, Francesca Albanese. Segundo os porta-vozes tunisinos da Flotilha, citados pela agência EFE, que se encontravam a bordo do barco principal da flotilha (Family), o incêndio provocado pelo ataque do drone "não causou danos graves, mas sim superficiais", e o navio "pode viajar" esta quarta-feira.

Entretanto, a Flotilha Global Sumud (GSF, na sigla em inglês) divulgou um vídeo que alega mostrar o ataque. A gravação mostra a chama de um disparo que desce do alto e a imagem e som de um impacto num dos "principais navios" da organização ativista, o 'Family Boat' (Barco da Família), que pegou fogo na sequência do ataque.

Num segundo vídeo, com uma tomada de imagem de outro ângulo, percebe-se que o ataque quase atingiu dois ativistas que se dirigiam para o local da embarcação alvejada, quando se encontrava atracada à margem no porto de Sidi Bou Said, em Tunes, capital da Tunísia.

Uma das tripulantes do navio, Yasemin Acar, indicou nas redes sociais que o drone "provocou um incêndio a bordo que já foi logo extinto". "Um drone passou por cima, lançou uma bomba, que explodiu e o barco pegou fogo. Todos no barco estão bem", descreveu numa publicação no Instagram. A Flotilha Global Sumud (GSF, na sigla em inglês) confirmou que não há feridos no navio que transporta elementos portugueses participantes na ação humanitária.

"Está em curso uma investigação e, assim que houver mais informações disponíveis, estas serão divulgadas imediatamente", acrescentou a GSF, através de várias publicações nas redes sociais e num comunicado enviado à Lusa. Albanese, relatora especial da ONU para a Cisjordânia e Gaza, tinha indicado ainda que "outros dois barcos estão a caminho de Tunes e precisam de proteção urgente".

"Os atos de agressão destinados a intimidar e a inviabilizar a nossa missão não nos dissuadirão", fez ainda saber a GSF, acrescentando que a "a missão pacífica de quebrar o cerco a Gaza e de [se] solidarizar com o seu povo continua com determinação e resolução".

As mesmas fontes garantiram que "apenas os tunisinos ficarão para vigiar os navios esta noite", segundo um vídeo divulgado pelo tunisino Wael Naouar, porta-voz magrebino da flotilha.

Naouar apelou aos tunisinos para que se deslocassem ao porto para proteger os navios que planeiam partir esta quarta-feira de manhã em direção à Faixa de Gaza, na tentativa de quebrar simbolicamente o bloqueio militar israelita imposto ao território.

Centenas de tunisinos dirigiram-se esta madrugada ao porto de Sidi Bou Said para mostrar solidariedade para com a flotilha, na sequência do incêndio num dos seus maiores navios, segundo vídeos divulgados nas redes sociais, em que se ouviam gritos com "viva a Palestina".

A Guarda Costeira tunisina garantiu esta madrugada através de um comunicado que "não existe qualquer ato hostil nem ataque externo".

O motivo do incêndio, de acordo com a investigação preliminar das autoridades tunisinas, é que "partiu dos coletes salva-vidas desse navio".

Miguel Duarte estava no barco, Mortágua e Aparício tinham saído

No domingo, o ativista português Miguel Duarte, que está integrado na flotilha humanitária, indicou à Lusa que os barcos que zarparam no passado domingo de Barcelona (Espanha) encontravam-se ao largo da costa da Tunísia, onde iam realizar uma paragem para recolher mais ajuda humanitária e fazer reparações.

Além do ativista integram também a flotilha a coordenadora do BE, Mariana Mortágua e a atriz Sofia Aparício. As duas não estariam na embarcação no momento do alegado ataque, mas Miguel Duarte estava.

Miguel Duarte tinha lamentado na mesma altura a presença de drones a sobrevoar as embarcações que partiram de Barcelona, na semana passada, após denúncia da organização Global Movement to Gaza, uma das que promoveu a Global Sumud Flotilla.

A Flotilha Global Sumud, que pretende ser "a maior missão humanitária da história" com o território palestiniano de Gaza, saiu inicialmente de Barcelona. 'Sumud' é uma palavra árabe que significa resiliência.

As forças israelitas têm em curso uma ofensiva na Faixa de Gaza que causou mais de 64.600 mortos no território governado pelo Hamas desde 2007.

A ofensiva seguiu-se ao ataque do Hamas no sul de Israel, em 07 de outubro de 2023, que provocou cerca de 1.200 mortos e 251 reféns.

Israel, que anunciou uma operação para tomar a cidade de Gaza, no norte do enclave, tem sido acusado de genocídio e de usar da fome como arma de guerra, que nega.

A ONU declarou em agosto uma situação de fome no norte de Gaza, o que acontece pela primeira vez no Médio Oriente.

Mariana Mortágua pede reação da comunidade internacional

Mariana Mortágua pediu esta terça-feira “uma reação por parte da comunidade internacional” ao alegado ataque . "Eu recordo que a bordo deste barco, no momento do ataque, estava um cidadão português, o Miguel Duarte, juntamente com outros cidadãos não armados, civis, que queriam apenas levar ajuda humanitária [a Gaza], e que este barco tem bandeira portuguesa", afirmou.

Em declarações à Lusa a partir do porto de Tunes, na Tunísia, onde os barcos da flotilha fizeram uma paragem para se juntarem a outras delegações e também para reabastecerem os tanques e preparar o resto da viagem, Mariana Mortágua disse que o ataque, que ocorreu de noite, aconteceu após a troca de turnos de vigia que os ocupantes dos barcos fazem porque "noutras missões anteriores já houve casos de ataques com drones ou de sabotagem dos barcos".

"Ontem [segunda-feira] eu, a Sofia [Aparício] e a tripulação ficámos a bordo do barco e os restantes participantes vieram até a terra e depois trocámos e o Miguel [Duarte] foi para o barco (...) e foi nesse momento, durante a noite, que um drone surgiu e lançou um dispositivo incendiário que espoletou um incêndio, que foi controlado pela ação dos tripulantes e dos passageiros que estavam a bordo, com extintores, com graves riscos para todos, mas felizmente controlados", explicou.

A coordenadora do BE adiantou ainda que, tendo em conta a previsão de mau tempo, a partida terá de ser adaptada, mas a flotilha deverá sair de Tunes na quarta ou na quinta-feira.

Governo está a recolher informações sobre incidente

O primeiro-ministro português afirmou esta terça-feira, em Pequim, que o Governo está a recolher informações sobre o que se passou com o alegado ataque.

Luís Montenegro foi questionado sobre pelos jornalistas, à margem da visita que está a realizar à China, sobre que informações dispõe o Governo sobre este caso.

"As informações são muito limitadas e, portanto, eu não poderei acrescentar nada mais que não o facto de ir recolher, precisamente, mais conteúdo informativo para poder depois emitir alguma opinião", afirmou o primeiro-ministro, que estava ladeado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel.

Notícia atualizada às 9h46.