O primeiro-ministro nepalês, KP Sharma Oli, demitiu-se do cargo esta terça-feira, na sequência dos violentos protestos que se têm feito sentir no país, que já provocaram mais de uma dezena de mortos. Numa carta citada pela CNN, o político menciona a “situação extraordinária” do país como a causa da sua demissão.
Os últimos dias têm sido marcados por protestos violentos liderados, essencialmente, por jovens com idades entre os 13 e os 28 anos (Geração Z). As forças de segurança usaram munições reais, canhões de água e gás lacrimogéneo, segundo descreve a agência Reuters.
As manifestações intensificaram-se depois de o Governo ter bloqueado 26 plataformas de redes sociais, entre elas Facebook, Instagram, WhatsApp, YouTube e X - numa medida apresentada como forma de combater notícias falsas, mas amplamente criticada por grupos de direitos humanos.
A contestação, porém, vai além da proibição digital: a corrupção enraizada, o desemprego juvenil elevado (20,8% em 2024, segundo o Banco Mundial) e a crescente indignação contra os chamados “Nepo Kids” (filhos de políticos que exibem estilos de vida luxuosos) estão a alimentar uma revolta que se espalhou por todo o país.
As autoridades locais dizem que já morreram, pelo menos, 19 pessoas na sequência destes confrontos, havendo mais de 400 hospitalizadas, incluindo membros das forças de segurança.
Sharma Oli resistiu inicialmente às exigências de demissão, mas acabou por ceder numa tentativa de conter a onda de protestos, que se espalhou por todo o país e se concentrou sobretudo na capital. Antes da sua saída, o ministro da Agricultura, Ramnath Adhikari, também se demitiu, após o secretário do Interior, Rasmesh Lekhak, ter anunciado a renúncia na segunda-feira.
Adhikari justificou a decisão com a “resposta autoritária” do executivo aos protestos, denunciando que “em vez de reconhecer o direito da população de questionar a democracia e de se manifestar, o Estado respondeu com repressão, assassinatos e uso da força, levando o país para um modelo autoritário em vez de democrático”, segundo escreve a Lusa.
O gabinete de direitos humanos da ONU já disse estar “chocado” com as mortes dos manifestantes e pediu uma investigação “transparente” ao sucedido. “O uso de força letal contra manifestantes que não representam uma ameaça iminente de morte ou ferimentos graves é uma grave violação do direito internacional”, afirmou a Amnistia Internacional num comunicado, citado pela CNN.