Zine El-Abidine Ben Ali morreu no exílio, na Arábia Saudita, noticiaram jornais tunisinos e internacionais esta quinta-feira. Mounir Ben Salha, advogado do ex-ditador confirmou o óbito ao site Euronews e à agência Reuters: “Ben Ali acabou de morrer na Arábia Saudita”, disse Ben Salha.
Foi Presidente da Tunísia entre 1987 e 2011, depois de ter sido primeiro-ministro durante alguns meses. Assumiu a presidência na sequência de um golpe de Estado que depôs Habib Bourguiba, o primeiro Presidente da Tunísia independente, depois de uma junta médica o ter declarado incapaz para exercer as funções de Chefe de Estado.
Vinte e quatro anos depois, em janeiro de 2011, Ben Ali foi depois deposto na sequência de violentos protestos dos jovens tunisinos que aderiram à chamada ‘Primavera Árabe’.
Ben Ali ainda declarou o estado de emergência no país e prometeu a realização de eleições livres nos seis meses seguintes, mas foi forçado a abandonar o poder e o país, poucas horas depois, com fortes suspeitas de enriquecimento ilícito e tráfico de droga.
Tentou ir para França que recusou recebê-lo, e rumou para a Arábia Saudita, onde vivia exilado desde a revolução que o destituiu.
O novo Governo tunisino acusou-o (a ele e à mulher) de branqueamento de capitais e narcotráfico. Foi condenado à revelia a 35 anos de cadeia, bem como a sua mulher, Leila. Ben Ali foi posteriormente condenado a prisão perpétua, num tribunal militar, por incentivo à violência e assassínio.
Dois anos antes de ser destituído, mandou criar uma conta no Twitter. A página foi sendo esparsamente alimentada por ele ou algum colaborador próximo. Em novembro do ano passado foi publicado tweet que reproduzimos acima.
O homem que nunca acabou o ensino secundário
Ben Ali nasceu em setembro de 1936, na vila costeira de Hammam Sousse, quando a Tunísia era um protetorado francês. Foi o quarto dos onze filhos de Selma Hassen, que trabalhava como guarda no porto de Sousse.
Nunca conseguiu terminar oficialmente o ensino secundário porque, muito jovem, se juntou ao movimento que lutava contra a ocupação francesa, o que determinou a sua expulsão da escola. Mais tarde — após a independência do país em março de 1956 — Ben Ali ingressou nas Forças Armadas tunisinas [Exército] e fez parte da sua formação em França e nos Estados Unidos.
Regressou à Tunísia em 1964 e, em 1977, foi nomeado Diretor Nacional de Segurança. Foi embaixador na Polónia, ministro de Estado e da Defesa, até a tal junta médica ter afastado Bourguiba do poder em 1987, numa espécie de golpe de Estado constitucional.
Começou por prometer um país democrático mas, dois anos depois de ter assumido a chefia do Estado, apresentou-se como único candidato às Presidenciais de 1989.
Ao longo dos 24 anos da sua presidência, surgiram inúmeras denúncias de violação dos Direitos Humanos; recorde-se a falta de liberdade de imprensa, e o caso do jornalista Taoufik Ben Brik, preso por ter criticado Ben Ali.
No início do século XXI, o regime que tutelava foi considerado um dos mais repressivos do mundo, em matéria de violação de Direitos Humanos. Apesar disso, foi reeleito para um quinto mandato a 25 de outubro de 2009 com 89% dos votos.
Na altura, um porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos alertou para o facto de não ter sido permitido aos observadores internacionais, monitorar o processo eleitoral .
O início do fim
Entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011, um forte movimento de protesto por causa do enorme desemprego juvenil causou vários distúrbios.
A 13 de janeiro de 2011, Ben Ali anunciou que não concorreria a outro mandato, e prometeu medidas para incentivar a economia e acabar com a censura à imprensa. As promessas chegaram tarde demais e, a 14 de janeiro, milhares de pessoas concentraram-se no centro da capital tunisina, e exigiram a renúncia imediata de Ben Ali.
Nesse mesmo dia. Ben Ali partiu para a Arábia Saudita com a mulher, Leila. Ben Ali , e os três filhos. Viveu no reino saudita até morrer esta quinta-feira, 19 de setembro, quatro dias depois da primeira volta antecipada das eleições presidenciais do seu país natal. O longo reinado do ditador já tinha terminado oito anos antes deste dia.