Internacional

Morreu Ben Ali, ex-ditador tunisino

Falecido aos 83 anos, o antigo Presidente governou durante 24 anos, até ser ser deposto em janeiro de 2011, na sequência dos protestos da ‘Primavera Árabe’

Ben Ali foi Presidente da Tunísia entre novembro de 1987 e 15 de janeiro de 2011. Abandonou o poder e o país onde nasceu porque não resistiu aos protestos da chamada ‘primavera árabe’
Jamal Saidi/Reuters

Zine El-Abidine Ben Ali morreu no exílio, na Arábia Saudita, noticiaram jornais tunisinos e internacionais esta quinta-feira. Mounir Ben Salha, advogado do ex-ditador confirmou o óbito ao site Euronews e à agência Reuters: “Ben Ali acabou de morrer na Arábia Saudita”, disse Ben Salha.

Foi Presidente da Tunísia entre 1987 e 2011, depois de ter sido primeiro-ministro durante alguns meses. Assumiu a presidência na sequência de um golpe de Estado que depôs Habib Bourguiba, o primeiro Presidente da Tunísia independente, depois de uma junta médica o ter declarado incapaz para exercer as funções de Chefe de Estado.

Vinte e quatro anos depois, em janeiro de 2011, Ben Ali foi depois deposto na sequência de violentos protestos dos jovens tunisinos que aderiram à chamada ‘Primavera Árabe’.

Ben Ali ainda declarou o estado de emergência no país e prometeu a realização de eleições livres nos seis meses seguintes, mas foi forçado a abandonar o poder e o país, poucas horas depois, com fortes suspeitas de enriquecimento ilícito e tráfico de droga.

Tentou ir para França que recusou recebê-lo, e rumou para a Arábia Saudita, onde vivia exilado desde a revolução que o destituiu.

O novo Governo tunisino acusou-o (a ele e à mulher) de branqueamento de capitais e narcotráfico. Foi condenado à revelia a 35 anos de cadeia, bem como a sua mulher, Leila. Ben Ali foi posteriormente condenado a prisão perpétua, num tribunal militar, por incentivo à violência e assassínio.

Dois anos antes de ser destituído, mandou criar uma conta no Twitter. A página foi sendo esparsamente alimentada por ele ou algum colaborador próximo. Em novembro do ano passado foi publicado tweet que reproduzimos acima.

O homem que nunca acabou o ensino secundário

Ben Ali nasceu em setembro de 1936, na vila costeira de Hammam Sousse, quando a Tunísia era um protetorado francês. Foi o quarto dos onze filhos de Selma Hassen, que trabalhava como guarda no porto de Sousse.

Nunca conseguiu terminar oficialmente o ensino secundário porque, muito jovem, se juntou ao movimento que lutava contra a ocupação francesa, o que determinou a sua expulsão da escola. Mais tarde — após a independência do país em março de 1956 — Ben Ali ingressou nas Forças Armadas tunisinas [Exército] e fez parte da sua formação em França e nos Estados Unidos.

Regressou à Tunísia em 1964 e, em 1977, foi nomeado Diretor Nacional de Segurança. Foi embaixador na Polónia, ministro de Estado e da Defesa, até a tal junta médica ter afastado Bourguiba do poder em 1987, numa espécie de golpe de Estado constitucional.

Começou por prometer um país democrático mas, dois anos depois de ter assumido a chefia do Estado, apresentou-se como único candidato às Presidenciais de 1989.

Ao longo dos 24 anos da sua presidência, surgiram inúmeras denúncias de violação dos Direitos Humanos; recorde-se a falta de liberdade de imprensa, e o caso do jornalista Taoufik Ben Brik, preso por ter criticado Ben Ali.

No início do século XXI, o regime que tutelava foi considerado um dos mais repressivos do mundo, em matéria de violação de Direitos Humanos. Apesar disso, foi reeleito para um quinto mandato a 25 de outubro de 2009 com 89% dos votos.

Na altura, um porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos alertou para o facto de não ter sido permitido aos observadores internacionais, monitorar o processo eleitoral .

O início do fim


Entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011, um forte movimento de protesto por causa do enorme desemprego juvenil causou vários distúrbios.

A 13 de janeiro de 2011, Ben Ali anunciou que não concorreria a outro mandato, e prometeu medidas para incentivar a economia e acabar com a censura à imprensa. As promessas chegaram tarde demais e, a 14 de janeiro, milhares de pessoas concentraram-se no centro da capital tunisina, e exigiram a renúncia imediata de Ben Ali.

Nesse mesmo dia. Ben Ali partiu para a Arábia Saudita com a mulher, Leila. Ben Ali , e os três filhos. Viveu no reino saudita até morrer esta quinta-feira, 19 de setembro, quatro dias depois da primeira volta antecipada das eleições presidenciais do seu país natal. O longo reinado do ditador já tinha terminado oito anos antes deste dia.