O presidente da Câmara de Lesbos acusou o Governo grego de permitir que a ilha se transformasse num gigantesco campo-prisão, escreve o “Guardian”. As autoridades insulares terão mesmo dado um ultimato à coligação governamental, depois de boicotarem as celebrações, esta quarta-feira, do 105º aniversário da libertação de Lesbos do domínio turco otomano.
“Estamos absolutamente contra as políticas que estão a transformar Lesbos e outras zonas de fronteira em campos de concentração onde é negada toda a dignidade humana”, afirmou o autarca Spyros Galinos. “O Governo não cumpriu a promessa de resolver o problema e transferir estas pessoas.”
Na sequência do acordo celebrado entre a UE e a Turquia para travar o fluxo migratório em março de 2016, os refugiados que chegaram às ilhas gregas estão proibidos de viajar para o continente até obterem resposta positiva aos seus pedidos de asilo. Como resultado, perto de 15 mil homens, mulheres e crianças estão retidas em Lesbos, Chios, Kos, Samos e Leros, ilhas gregas do mar Egeu próximas da costa turca.
Segundo o Ministério Interior grego, só em Lesbos e Samos mais de 8300 pessoas vivem em infraestruturas com condições para albergar 3000. Em Lesbos, 6000 estão refugiadas em Moria, o maior campo da ilha concebido para albergar o máximo de 2000.
Depois da chegada em massa de requerentes de asilo à Grécia nos últimos três meses, o ministro grego para a migração Ioannis Mouzalas disse que o Governo estava a considerar arrendar quartos em hotéis e enviar navios de cruzeiro para as ilhas para acolher estas pessoas durante o período de inverno que se aproxima. “O aumento de chegadas é preocupante”, afirmou recentemente numa conferência de imprensa em Atenas.
Dezoito organizações de direitos humanos que prestam assistência aos refugiados na Grécia enviaram no mês passado uma carta ao primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, alertando para as condições terríveis a que estas pessoas estão sujeitas, e que colocam as suas vidas em risco.
As autoridades municipais de Lesbos reagiram com veemência às notícias de que os campos de refugiados existentes seriam alargados e outros construídos de raiz, alegando que esta solução atrairá ainda mais refugiados e migrantes à ilha, que de momento não oferece condições dignas aos que já lá estão.
Os residentes que em finais de 2015, no pico do fluxo migratório, receberam os refugiados com compaixão e lhes prestaram auxílio, mostram-se cada vez mais descontentes com a ineficácia das autoridades em lidar com a sobrelotação e o aumento de atos criminosos.
A autarquia de Lesbos pediu ao Governo central que interceda a fim de manter a dignidade das pessoas que fogem da pobreza e da guerra, salvaguardando ao mesmo tempo “a coesão na zona de fronteira”.