Projetos Expresso

Repensar cadeias de valor do medicamento em nome da sustentabilidade ambiental

Projetos Expresso. O projeto para tornar a Europa mais verde e neutra em carbono implica alterações de fundo à forma como as empresas atuam, incluindo na indústria farmacêutica. À sexta-feira, o ‘Mais Saúde, Mais Europa’ resume os temas mais relevantes da semana numa iniciativa do Expresso com apoio da Apifarma

Por ano, são feitos mais de 60 milhões de quilómetros em Portugal para garantir a distribuição de fármacos. Viaturas elétricas e tecnologia são soluções para reduzir impacto ambiental
Jose Fernandes

Francisco de Almeida Fernandes

Até 2050, Portugal e a Europa devem ser espaços neutros em carbono, o que implica profundas alterações à estrutura da economia e à forma como a indústria, em particular, desenha as suas cadeias de valor e distribuição. “Historicamente, uma parte considerável das matérias-primas para a indústria farmacêutica vem do Oriente”, aponta ao Expresso, Hermano Rodrigues, da EY-Parthenon.

A dependência europeia dos mercados internacionais provoca vários constrangimentos, como a pandemia evidenciou – desde interrupções no fornecimento de produtos à perda de competitividade, não esquecendo os impactos ambientais que daqui resultam. Para o consultor, esta deslocalização progressiva da produção farmacêutica que aconteceu ao longo das últimas décadas deve-se, sobretudo, a dois fatores: a pressão dos Estados para a redução dos preços dos medicamentos, que obriga a procurar mão de obra mais barata, e regulação a nível ambiental, que leva a que muitas empresas prefiram deixar essa responsabilidade para países fora da União Europeia, onde as exigências legais não são tão pesadas.

“Quer na produção de substâncias ativas, quer na produção de medicamentos essenciais, fomos perdendo quota de mercado sobretudo para a Ásia”, revela Hermano Rodrigues, consultor EY-Parthenon

Alterar este cenário é um dos grandes objetivos da UE para os próximos anos, nomeadamente através da estratégia para a reindustrialização do velho continente. A ideia é voltar a aproximar a produção da Europa, permitindo reduzir o impacto ambiental, aumentar a soberania europeia na produção de medicamentos e melhorar a competitividade da indústria. Ainda assim, abraçar modelos mais sustentáveis implica, também, reforçar o investimento em atividades de investigação e desenvolvimento para melhorar processos e torná-los mais eficientes. Neste campo, programas como o Horizonte Europa, que guarda cerca de €95 mil milhões para investigação e desenvolvimento, são impulsionadores desta estratégia.

Além do fabrico dos fármacos, é depois preciso garantir o seu transporte até às farmácias e hospitais, outra componente da cadeia de distribuição que contribui para a emissão de gases com efeitos de estufa. Segundo uma pesquisa da McKinsey sobre a capacidade e o compromisso de vários sectores de atividade relativamente à sustentabilidade, a indústria farmacêutica é uma das que enfrenta maiores desafios na adaptação a uma economia mais verde. “Um dos fatores-chave para estas indústrias reduzirem as emissões é o papel da tecnologia”, lê-se no relatório. E é esse esforço que os agentes económicos do sector estão a fazer, garante ao Expresso a ADIFA – Associação de Distribuidores Farmacêuticos (ver abaixo).

Garantir que o futuro da Europa é mais verde e sustentável é um dos grandes objetivos comunitários, mas também um dos pilares da Presidência Portuguesa do Conselho da UE que está prestes a terminar. À sexta-feira, o ‘Mais Saúde, Mais Europa’ resume os temas que marcam a agenda na saúde, numa iniciativa do Expresso com apoio da Apifarma.

60 milhões

é o número de quilómetros percorridos por ano pelas empresas associadas da ADIFA, cuja quota do mercado de distribuição ronda os 80%. Por dia, garantem a entrega de mais de 800 mil embalagens de medicamentos

Milhões de quilómetros por ano

  • Não é segredo nem surpresa que o sector dos transportes é dos que mais contribuem para a emissão de gases com efeitos de estufa, o que exige a procura de novas soluções. “As diferentes empresas [da distribuição de medicamentos] têm vindo a promover ações no sentido de corresponder aos desafios da transição energética e da ação climática”, garante a ADIFA. Segundo números da instituição, os seus associados percorrem cerca de 60 milhões de quilómetros por ano ou quase 200 mil por dia.
  • Também por isso, a associação assegura que a introdução de viaturas elétricas nas frotas e a instalação de soluções de energia renováveis nas plataformas logísticas são exemplo do esforço que está a ser feito pelas empresas.
  • Através da utilização de um modelo de distribuição de serviço completo, um estudo da Deloitte mostra que “o efeito agregador desta atividade permite reduzir anualmente cerca de 937 mil toneladas de emissões de CO2”, explica a ADIFA. Esta poupança seria equivalente a um cenário em que cada português deixasse de usar o seu automóvel uma vez por semana.