“A taxa de sucesso para aprovação de um novo medicamento é muito baixa em todo o mundo”. A frase é de António Murta, CEO da Pathena e um dos membros do júri do Prémio Jorge Ruas, que esta quarta-feira procurou distinguir o melhor de dez projetos científicos que têm precisamente esse objetivo: trazer novas soluções terapêuticas para o mercado e facilitar o processo de desenvolvimento de novas terapias. Deter ou reverter o avanço da esclerose múltipla primária progressiva (PPMS, na sigla em inglês) foi a ideia que convenceu o júri e alcançou o grande prémio de €100 mil.
Ao longo de toda a tarde, a Tecnimede Open Innovation Competition - organizada pelo Grupo Tecnimede em parceria com a HiseedTech, e a que o Expresso se associou como media partner – conheceu e avaliou as dez ideias finalistas, através de apresentações individuais de cinco minutos.
O neurocientista Matthew Holt, membro do i3S, deu a conhecer o AAV-Based Gene Therapy for PPMS, que procura “desenvolver uma nova terapia que consiga entregar a molécula certa, no sítio certo e na altura certa”. O objetivo é entregar um gene às células do sistema nervoso central, no cérebro, e atuar contra a neuroinflamação que provoca, entre outras maleitas, a esclerose múltipla primária progressiva.
“Acreditamos realmente que a nossa solução representa uma oportunidade única que os nossos concorrentes não conseguem superar”, reiterou perante o painel de júri presidido por Amílcar Falcão, reitor da Universidade de Coimbra. O objetivo é chegar a ensaios clínicos nos próximos anos para comprovar a eficácia em pacientes humanos. De acordo com o neurocientista, estima-se que existam cerca de 2,8 milhões de pessoas em todo o mundo são afetadas por esclerose múltipla, uma doença “devastadora”, e, destas, cerca de “10% a 15% têm PPMS”.
“Como alguém cuja família foi recentemente afetada por doenças neurodegenerativas, fico muito feliz por receber este prémio”, afirmou Matthew Holt, que leva consigo um cheque de €100 mil e apoio técnico do Grupo Tecnimede.
“Este prémio é um estímulo à inovação e à investigação científica”, considerou Rui Santos Ivo, presidente do Infarmed. “É preciso potenciar o melhor que existe em Portugal e na Europa, porque o nosso futuro depende da nossa capacidade de cooperar e de inovar”, apontou.
O evento contou ainda com uma mesa-redonda sobre “Ciência e empresas: pontes ou muros invisíveis?”, moderada pela jornalista Clara de Sousa, com a participação de Amílcar Falcão, António Murta, Carlos Robalo Cordeiro (Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra), Helder Mota Filipe (Ordem dos Farmacêuticos) e Maria do Carmo Neves (Grupo Tecnimede).
Conheça abaixo as principais conclusões do debate, bem como a lista de projetos finalistas da primeira edição do Prémio Jorge Ruas.
Empresas e academia precisam de ‘tradutor’
- “Não é preciso inventar a roda”, considera o bastonário da Ordem dos Farmacêuticos quando questionado sobre como melhorar a cooperação entre universidades e empresas no âmbito da inovação. Para Helder Mota Filipe, é preciso haver “mais capacidade de diálogo” e “estratégias alinhadas” para que este seja um casamento feliz.
- Maria do Carmo Neves, que há cerca de uma década desenvolve projetos de investigação em parceria com a Universidade de Coimbra, considera que é preciso existir uma ponte entre estes dois mundos para que seja possível alinhar as vontades da academia com as das empresas. “A indústria queixa-se que a academia é lenta e não é pragmática. A academia queixa-se que a indústria só privilegia produtos que cheguem ao mercado”, reconhece.
- Embora todos os oradores deem nota positiva a esta colaboração, todos concordam que é urgente reduzir a burocracia e rever a política fiscal, de forma a premiar quem investe em investigação e desenvolvimento. Por outro lado, António Murta acredita ser importante alterar “os indicadores de desempenho das universidades para que incluam a transferência [do conhecimento] para a sociedade e o impacto real”.
- Carlos Robalo Cordeiro concorda e acrescenta que, além de ser necessário um tradutor, é preciso alinhar “diferentes expectativas e diferentes timings” e acelerar a transferência de conhecimento com “consequências [positivas] para a sociedade”. “Temos de falar a mesma linguagem”, remata Helder Mota Filipe.
Projetos finalistas Prémio Jorge Ruas
- Glioblastoma Treatment Innovation
- GnRHope
- iPLUS
- mFibro
- NEXOLIVAD
- Optomics Technology
- PURR.AI's AGELESS Platform
- Reventus Pharma
- Targeting VGF Receptor Signalling for Brain Metastasis (BRIGHT)
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