O desenvolvimento das vacinas contra a covid-19 ficará para a história pela velocidade do processo sem precedentes, embora só tenha sido possível graças aos anos acumulados de investigação fundamental. “É mesmo um investimento com retorno e uma medida racional, porque traz benefícios a curto mas também longo prazo, alguns dos quais não conseguimos sequer prever”, aponta o investigador e pediatra Ricardo Fernandes. A covid-19 é disso exemplo. Na semana passada, os Estados Unidos da América anunciaram a alocação de €3,2 mil milhões à busca por medicamentos que permitam tratar a doença. Trata-se de um projeto para “novos antivirais que previnam a doença séria e morte por covid-19”, conforme confirmou Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas (NIAID). Este é o esforço que a Europa deve seguir, dizem os peritos.
Porém, apesar da sua reconhecida importância para o surgimento de novos fármacos e terapêuticas, a investigação científica continua a enfrentar desafios em Portugal e na Europa. “Se compararmos o investimento entre blocos geoestratégicos, parece-me claro que a União Europeia pode e deve aumentar o seu contributo”, refere Ricardo Fernandes, que lidera a iniciativa de inovação Stay4Kids. Regiões como a Coreia do Sul (4,52% em 2018), Japão (3,28%) ou EUA (2,82%) permanecem à frente do espaço europeu no que respeita à percentagem do PIB dedicada a iniciativas de investigação. “A nível nacional, são bem conhecidas as lacunas em investigação clínica e ensaios, área que permanece frágil e com limitações nas estruturas de suporte, recursos e tempo dedicado”, detalha o pediatra.
“Nos impactos indiretos temos a grande dinamização da economia como resultado da investigação”, afirma Rui Medeiros, presidente da European Cancer Leagues
João Almeida Lopes, presidente da Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica – Apifarma, acredita que é preciso, a nível nacional e comunitário, garantir condições atrativas à indústria farmacêutica para dinamizar a produção de conhecimento e melhorar a competitividade do velho continente. Medidas como “estabilidade legislativa, estabilidade dos preços, apoio regulamentar mais rápido e com menores custos, apoio institucional e diplomático e, também, incentivos ao investimento” são vistas como essenciais. Os ganhos são claros, aponta o presidente da European Cancer Leagues, Rui Medeiros. “Nos impactos indiretos temos a grande dinamização da economia como resultado da investigação”, diz, acrescentando que outro dos efeitos é o aumento da diversidade de profissionais de saúde “que são key-players no sistema” de saúde.
Esta é uma área prioritária para o Governo português, que se comprometeu a investir 3% do PIB em I&D até 2030, mas também da União Europeia, que lançou já este ano o Horizonte Europa com uma dotação de cerca de €95 mil milhões para atividades de investigação. Esse foi, também, um dos momentos-chave da Presidência Portuguesa do Conselho da UE, cuja atividade o ‘Mais Saúde, Mais Europa’ continua a acompanhar em permanência até julho. À segunda-feira, a iniciativa do Expresso com apoio da Apifarma reúne os principais eventos da agenda da semana.
€3,2 mil milhões
é quanto os EUA destinaram à busca por medicamentos que permitam tratar a covid-19
Conheça os destaques:
Segunda, 21
- O início da semana começa com o European Next Generation Innovators Summit, uma iniciativa organizada pela Startup Portugal e pelo Ministério da Economia e da Transição Digital, debaixo do chapéu da Presidência Portuguesa. É um evento dedicado ao empreendedorismo tecnológico e à importância dos ecossistemas colaborativos, mas também ao papel que as startups têm na missão de tornar a Europa líder mundial em tecnologia.
- Almeida Lopes refere que “a Europa tem de dar passos firmes na criação de um ambiente favorável que convença os centros de decisão das multinacionais que operam nas áreas da biomedicina e biofarmacêutica das vantagens competitivas deste território”, sendo a inovação tecnológica um dos critérios na atração de investimento estrangeiro.
- No evento participam o secretário de Estado da Transição Digital, André de Aragão Azevedo, e os seus congéneres francês e esloveno, bem como o empresário Nuno Sebastião, do unicórnio Feedzai. A participação é gratuita através da emissão em streaming, que pode ver aqui.
Quinta, 24
- O Conselho Europeu reúne-se esta quinta e sexta-feira para debater a covid-19, a recuperação económica e questões ligadas à migração e às relações externas. No que respeita à pandemia, os responsáveis políticos vão analisar a situação epidemiológica e vacinal no espaço comunitário, numa altura em que, a nível mundial, Portugal ocupa o 33º lugar no ritmo de vacinação. O país está atualmente com cerca de 47% da população abrangida pela primeira dose e 25% dos portugueses já inoculados.
- Apesar dos números positivos, o território nacional está, neste momento, a enfrentar um agravamento da situação pandémica, em particular pela subida de casos na região de Lisboa, onde a variante Delta já representa 60% das infeções. A ameaça das variantes e a reação das vacinas será, certamente, um dos temas em análise durante o encontro de líderes.