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Na Feira do Livro do Porto, Eugénio será uma das árvores que cantou nos seus poemas

A 11.ª edição do evento arranca na sexta-feira, nos jardins do Palácio de Cristal, e vai homenagear o “poeta da luz”. Além de 130 stands de livros, a feira apresenta uma vasta programação cultural que inclui conversas, concertos, sessões de cinema e oficinas

Eugénio de Andrade (1923-2005)
António Pedro Ferreira

“O Porto é só a pequena praça onde há tantos anos aprendo metodicamente a ser árvore, procurando assim parecer-me cada vez mais com a terra obscura do meu próprio rosto”, escreveu Eugénio de Andrade, em 1979, num texto que viria a integrar a obra “Poesia e Prosa [1940-1980]”.

O poeta, que nasceu na Póvoa da Atalaia, no Fundão, mas admirou as árvores da Invicta durante mais de 50 anos, vai ficar imortalizado numa delas no âmbito da 11.ª edição da Feira do Livro do Porto, que decorre entre esta sexta-feira e 8 de setembro nos jardins do Palácio de Cristal com uma programação em homenagem ao prémio Camões de 2001.

Sob o mote “Por mais solar que seja o coração”, verso que consta da antologia “O sal da língua”, a feira vai acolher 130 stands de livros de 115 livreiros, editoras e alfarrabistas, que serão instalados, como habitual, na Avenida das Tílias. O evento terá também uma forte componente cultural, com uma agenda repleta de conversas, sessões de poesia e humor, cinema, concertos, apresentações de livros, oficinas e outras atividades para o público infantojuvenil e para famílias.

As tílias dos autores

Um dos pontos altos da feira será a cerimónia de atribuição da tília de homenagem a Eugénio de Andrade, agendada para sábado, dia 24 de agosto, às 15h. A materialização deste reconhecimento coloca o poeta ao lado de figuras da literatura portuguesa como Ana Luísa Amaral, Manuel António Pina, Sophia de Mello Breyner e Vasco Graça Moura, que também ficaram eternizados na Avenida das Tílias.

O tributo ao “poeta da luz” assinala o início das iniciativas dedicadas à sua vida e obra. Ainda no sábado, às 16h, os visitantes poderão assistir à conversa “Arco e Flecha: Temas de Eugénio Hoje”, moderada pela investigadora Joana Meirim, que incide sobre a intemporalidade da poesia de Eugénio e propõe olhar os temas sobre os quais escreveu através da lente da atualidade.

No mesmo dia, às 21h, “Eugénio de Andrade, Coração Habitado” inaugurará um ciclo de cinema em que a poesia dialoga com filmes e autores com que Eugénio se relacionou. Realizado por Arnaldo Saraiva, que estará presente na sessão, o documentário contém a última entrevista audiovisual ao poeta e testemunhos de escritores, ensaístas e artistas.

Para domingo, 25 de agosto, às 16h, está agendada “A Suprema Festa da Língua: Eugénio de Andrade e a Poesia como Tradição/Tradução”, sessão com Daniel Jonas, Margarida Vale de Gato, Tatiana Faia e Vasco Gato em que serão abordadas as influências nacionais e internacionais de Eugénio e a dimensão ocupada pela tradução de poesia no seu ofício.

Sete livros para lançar

Destacam-se, igualmente, cinco ciclos de conversas que ao longo das duas semanas de feira vão reunir várias personalidades do panorama cultural português, nomeadamente da literatura e da música, como Dulce Maria Cardoso, Isabela Figueiredo, Gonçalo M. Tavares, Capicua, Carlos Tê e António Zambujo, entre outros.

Estão previstos, ainda, sete lançamentos de livros no decorrer do evento. “A Urgência da Cidade – O Porto e 100 Anos de Fernando Távora”, cujo lançamento está marcado para domingo, 25 de agosto, às 15h, a concluir a programação do Museu e das Bibliotecas do Porto relativa ao centenário do arquiteto.

No dia 1 de setembro, às 15h, terá lugar a pré-apresentação de “Erros Meus – Poemas Incompletos”, de Nuno Artur Silva, coleção que percorre quatro décadas de poesia e que será publicada em 2025. Já no dia 6, às 17h, José Luís Peixoto irá levantar o véu sobre “Um romance com pessoas”, romance que está a escrever desde 2021.

Música e Post Scriptum

Como de costume, a Feira do Livro dará música aos visitantes, com 21 concertos ao longo dos 17 dias do evento. O Auditório da Biblioteca estará ao rubro a partir do segundo fim de semana da feira, às sextas e sábados, com artistas como Valter Lobo e Frankie Chavez. A Concha Acústica será o palco da banda sonora dos finais de tarde durante 13 dias, com um alinhamento onde constam nomes como Gisela João, Tiago Nacarato, EU.CLIDES e Milhanas. Há ainda espaço para o jazz nacional, com a programação do “Porta-Jazz” a tomar conta das manhãs de 24 de agosto e 1, 7 e 8 de setembro.

Além da musicalidade, a poesia de Eugénio é dotada de uma imagética rica, alimentada pela sua ligação às artes plásticas. Ao longo do seu percurso, o poeta escreveu vários textos para catálogos de artistas e colecionou diversas peças. A exposição “Post Scriptum sobre a Alegria”, composta por mais de 100 obras, livros de artista e edições limitadas, desvenda a sua coleção de arte pela primeira vez.

O programa da feira não deixa ninguém de fora. Os mais pequenos e as famílias terão uma série de atividades à escolha, como as “Oficinas no Terreiro”, indicadas para crianças com mais de seis anos, que poderão experimentar diferentes artes como a escrita manual, a encadernação ou a pintura de azulejos.

Na Casa Tait, a pequenada poderá dar asas à imaginação com a ajuda da ANILUPA – Centro Lúdico da Imagem Animada, que organizará um laboratório de cinema onde os participantes podem desenvolver um filme relacionado com o universo de Eugénio de Andrade. De referir, ainda, o “Curso de Escrita e Imaginação Para Jovens”, orientado por Gonçalo M. Tavares na sala Unicer.

A programação completa pode ser consultada aqui.