E ao segundo dia, tal como no primeiro e nos outros antes desse, Paulo Rangel dedicou todo um discurso a criticar o Governo do PS em geral e Pedro Marques em particular. Desta vez, Rangel lançou-se ao ataque dada a dúvida, que continua a pairar, sobre se Marques planeia abandonar o Parlamento Europeu para ser comissário: “Isto não é altura de brincar às eleições. Se não quer [ser eurodeputado], tem de dizer”.
A polémica foi esta terça-feira alimentada pela (não) resposta de Pedro Marques que, aos jornalistas, durante um momento de campanha em Évora, garantiu que tudo não passa de uma vontade do principal adversário de “fazer ruído” sobre a sua candidatura. Mesmo assim, não esclareceu se pretende cumprir o mandato como eurodeputado até ao fim, repetindo apenas que é ao Parlamento Europeu que se está a candidatar.
E Rangel agarrou o gancho. Num jantar-comício em Arganil, depois de um dia dedicado às zonas que arderam nos incêndios de 2017, lembrou a ausência de resposta do rival: “Nós, PSD, levamos as eleições ao Parlamento Europeu a sério. E por isso não aceitamos o que os nossos adversários do PS estão a fazer, a ambiguidade do cabeça de lista, que é incapaz de dizer se quer ou não assumir o mandato ou se está a fazer apenas um estágio para ser nomeado como comissário europeu”, sublinhou. E lembrou que, enquanto Pedro Marques ainda era ministro mas não se sabia que era candidato ao Parlamento Europeu, fez anúncios em catadupa em nome do Ministério: “Andou um mês e meio a usar o seu cargo para fazer anúncios e ganhar visibilidade”.
“Já que falamos na execução dos fundos do Governo”, prosseguiu - era o próprio que trazia o assunto, mas era a deixa perfeita para seguir e ampliar o ataque de Marques para o Governo todo - e chegou ao tema que mais poderia tocar a sua audiência: o dos incêndios. Particularmente, a acusação que tem feito e repetido sobre a utilização de metade do fundo europeu de solidariedade em “despesas correntes e computadores” da administração central, sinal de um Governo de visão “centralista” que deixa o interior ao “abandono”, atacou.
“Esse desvio de fundos é mais uma cativação de Mário Centeno, que tira aos territórios pobres afetados para dar às administrações gerais. Não posso aceitar que se aprove em Bruxelas e na Europa e que esses milhões estejam nos bureaus e edifícios em Lisboa”. Foi uma transição para ataques variados ao Governo: “Já vimos isso na questão dos passes sociais: tudo para o Porto e Lisboa, nada para os outros. Já vimos isso em requisições civis, quando a greve dos combustíveis afeta todo o território”.
Podia parecer o discurso de um candidato a primeiro-ministro, mas era mesmo o de um eurodeputado que luta pela reeleição. Por isso, e sem falar de Europa salvo as referências breves ao fundo de solidariedade europeu para a questão dos incêndios, insistiu em lembrar os “cortes máximos e serviços mínimos” deste Governo, o “bullying” que o Executivo e a ministra da Saúde em particular fazem ao SNS, a “incúria” em questões fundamentais como a Proteção Civil ou a segurança. Já lhe tinha chamado “Governo da incúria”, mas rematou com novo cognome: “Isto sim, é o Governo mais eleitoralista de sempre”.