Um está em Bragança e outro em Aveiro, mas não é por isso que o diálogo - ao ataque - entre Pedro Marques e Paulo Rangel se interrompe. Com o mar azul de Ovar como pano de fundo, um vento considerável a despenteá-lo e os pés apoiados em rochas num equilíbrio precário, Rangel não resistiu, durante uma ação de campanha sobre a economia do mar, a lançar farpas ao rival do PS e a fazer pouco da sua "erupção de irritação".
Há dias que os dois candidatos trocam acusações sobre quem se dá pior na rua em campanha e quem colhe menos a simpatia dos eleitores, com Rangel a acusar Marques de fazer uma campanha em circuito fechado, em empresas ou instituições, e Marques a acusar o social-democrata de ter "falta de empatia". Para a nova farpa, a técnica foi costumeira: Rangel ouviu a pergunta, disse que não valia a pena comentar, e assim comentou. E entusiasmou-se (repetiu a palavra irritação ou variantes oito vezes numa resposta de dois minutos).
"Não vou estar agora a reagir a todas as erupções de irritação, irritabilidade, do candidato socialista. Vamos deixá-lo irritar-se, é um direito fundamental, e portanto se se ele está irritado deixemo-lo irritar-se, todo o ser humano tem direito à irritação e Pedro Marques também. É evidente que o PS resolveu fazer uma campanha que não está na rua. O que não pode, depois, é ter chuva no nabal e sol na eira. É uma manifestação do direito fundamental à irritação, está irritadiço, deixem-no estar".
Embalado, e entusiasmado, com a fluidez da resposta a Marques, Rangel continuou a aventurar-se em mais uma resposta original. Antes tinha arriscado fazer a um instrutor de surf, que lhe entregara a ele e a Salvador Malheiro, autarca de Ovar e vice do PSD, duas cervejas ("para surfar é preciso cervejas", argumentou, embora os dois não fossem fazer surf), uma análise técnica ao estado das ondas: "O mar está flat!".
Questionado sobre se também a campanha estaria flat, Rangel seguiu no mesmo registo: "Eu diria que estamos numa campanha picadinha. É evidente que não está ainda com aquelas ondas dignas de uma sinfonia de Beethoven, isso será um bocadinho mais lá para a frente, ou se quiser da Carmina Burana, que normalmente é ilustrada com o mar, se quiser mais uma referência cultural, mas eu diria que nós já estamos com uma campanha picadinha", brincou.
As brincadeiras tiveram espaço depois de uma ação que visou chamar a atenção para a erosão da zona costeira nas praias da zona de Ovar ("é o efeito prático das aterações climáticas", considerou Malheiro) e na qual reforçou: "O panorama [das alterações climáticas] está a evoluir rapidamente. O PSD tem uma tradição muito antiga de estar à frente no ambiente". Por isso, já tinha dedicado parte da tarde a visitar a ria de Aveiro - se na praia não se fez rogado e se lançou à areia e às rochas, na via, desafiado por um fotojornalista ("senhor candidato, são 200 metros"), agarrou-se a uma bicicleta e percorreu mais do que os tais 200 metros.
Mais atrás vinha Álvaro Amaro, quinto candidato na lista e autarca da Guarda, que ainda ouviu uma provocação da comitiva dado o ritmo mais vagaroso - até porque eram 15h30 e os termómetros marcavam mais de trinta graus - que levava: "Ó Álvaro, com esse andamento não chegas à Europa!".