Europeias 2019

PSD: O “direito fundamental” de Pedro Marques à irritação e uma campanha “picadinha”

Os mais de trinta graus que se faziam sentir no distrito de Aveiro não impediram Paulo Rangel de passear de bicicleta ou passear pelas rochas na praia de Ovar. Quando foi tempo de falar de política, lançou-se a Pedro Marques: “Vamos deixá-lo irritar-se, é um direito fundamental”. E ainda fez de comentador

Rui Duarte Silva

Um está em Bragança e outro em Aveiro, mas não é por isso que o diálogo - ao ataque - entre Pedro Marques e Paulo Rangel se interrompe. Com o mar azul de Ovar como pano de fundo, um vento considerável a despenteá-lo e os pés apoiados em rochas num equilíbrio precário, Rangel não resistiu, durante uma ação de campanha sobre a economia do mar, a lançar farpas ao rival do PS e a fazer pouco da sua "erupção de irritação".

Há dias que os dois candidatos trocam acusações sobre quem se dá pior na rua em campanha e quem colhe menos a simpatia dos eleitores, com Rangel a acusar Marques de fazer uma campanha em circuito fechado, em empresas ou instituições, e Marques a acusar o social-democrata de ter "falta de empatia". Para a nova farpa, a técnica foi costumeira: Rangel ouviu a pergunta, disse que não valia a pena comentar, e assim comentou. E entusiasmou-se (repetiu a palavra irritação ou variantes oito vezes numa resposta de dois minutos).

"Não vou estar agora a reagir a todas as erupções de irritação, irritabilidade, do candidato socialista. Vamos deixá-lo irritar-se, é um direito fundamental, e portanto se se ele está irritado deixemo-lo irritar-se, todo o ser humano tem direito à irritação e Pedro Marques também. É evidente que o PS resolveu fazer uma campanha que não está na rua. O que não pode, depois, é ter chuva no nabal e sol na eira. É uma manifestação do direito fundamental à irritação, está irritadiço, deixem-no estar".

Embalado, e entusiasmado, com a fluidez da resposta a Marques, Rangel continuou a aventurar-se em mais uma resposta original. Antes tinha arriscado fazer a um instrutor de surf, que lhe entregara a ele e a Salvador Malheiro, autarca de Ovar e vice do PSD, duas cervejas ("para surfar é preciso cervejas", argumentou, embora os dois não fossem fazer surf), uma análise técnica ao estado das ondas: "O mar está flat!".

Questionado sobre se também a campanha estaria flat, Rangel seguiu no mesmo registo: "Eu diria que estamos numa campanha picadinha. É evidente que não está ainda com aquelas ondas dignas de uma sinfonia de Beethoven, isso será um bocadinho mais lá para a frente, ou se quiser da Carmina Burana, que normalmente é ilustrada com o mar, se quiser mais uma referência cultural, mas eu diria que nós já estamos com uma campanha picadinha", brincou.

As brincadeiras tiveram espaço depois de uma ação que visou chamar a atenção para a erosão da zona costeira nas praias da zona de Ovar ("é o efeito prático das aterações climáticas", considerou Malheiro) e na qual reforçou: "O panorama [das alterações climáticas] está a evoluir rapidamente. O PSD tem uma tradição muito antiga de estar à frente no ambiente". Por isso, já tinha dedicado parte da tarde a visitar a ria de Aveiro - se na praia não se fez rogado e se lançou à areia e às rochas, na via, desafiado por um fotojornalista ("senhor candidato, são 200 metros"), agarrou-se a uma bicicleta e percorreu mais do que os tais 200 metros.

Mais atrás vinha Álvaro Amaro, quinto candidato na lista e autarca da Guarda, que ainda ouviu uma provocação da comitiva dado o ritmo mais vagaroso - até porque eram 15h30 e os termómetros marcavam mais de trinta graus - que levava: "Ó Álvaro, com esse andamento não chegas à Europa!".