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7. As feridas curam-se melhor se puderem respirar e não lhes tirarem as crostas?

O jornalista Anahad O'Connor, do 'The New York Times', reuniu num livro com um título bem humorado as respostas científicas às perguntas que todos nós fazemos sobre a saúde e o mundo que nos rodeia. E desfaz muitos dos mitos que andam na nossa cabeça desde a infância.

Clique para ler Ciência com humor, onde, até dia 30 de Janeiro, publicaremos a resposta a uma pergunta. Aproveite e deixe a sua opinião.

7. As feridas curam-se melhor se puderem respirar e não lhes tirarem as crostas?

Os pais e as enfermeiras escolares, ao longo do tempo, têm tido uma honrada abordagem ao tratamento de pequenas feridas e arranhões que um mundo duro pode causar na pele de uma criança: limpa a ferida, pára a hemorragia, depois deixa que apanhe ar. E nunca retires a crosta, por mais comichão que ela faça ou levante uma das pontas.

O objectivo desta abordagem, tal como está descrito nos textos médicos, é baixar as hipóteses de vir a ter uma infecção e acelerar o processo de cura. Isso, disseram-nos, é o caminho mais seguro e eficaz para a recuperação.

Mas os investigadores e os dermatologistas descobriram que o que muitas pessoas sabem sobre o tratamento de pequenos cortes e arranhões é uma grande história. A sua enfermeira da escola estava enganada. Os seus pais estavam enganados.

Aquele miúdo que se sentava atrás na sala de aula e arrancava as crostas - só ele estava certo. Expor uma ferida ao ar para que ela possa respirar é um engano terrível, ao que parece, porque cria um ambiente seco que incrementa a morte celular.

Um conjunto de estudos descobriu que, quando as feridas são mantidas húmidas e cobertas, os vasos sanguíneos regeneram-se mais depressa e o número de células que causam inflamação baixa mais rapidamente do que aconteceria em feridas expostas ao ar. O melhor conselho médico de hoje: é preferível manter uma ferida húmida e coberta durante pelo menos cinco dias.

Um penso, vale a pena referir, pode fazer várias coisas. Impede a infecção, mantém a ferida húmida e protege a área da luz do Sol, que estimula a produção de pigmento e pode causar descoloração. Porém, infelizmente, não há provas para dizer que os pensos rápidos funcionam melhor do que os normais, apesar de os miúdos de toda a parte dizerem isso.

Outro erro comum que as pessoas fazem é aplicar pomadas antibióticas. Estes antibióticos podem manter a ferida húmida, mas também podem fazer com que inche e surja uma reacção alérgica chamada dermatite de contacto. A simples vaselina, aplicada duas vezes por dia, funciona perfeitamente.

Sim, pode avançar e tirar aquela crostazinha invisível quando ninguém estiver a ver: uma pequena crosta inicial ajudará a que não sangre, mas se for deixada demasiado tempo deixará uma cicatriz maior. A melhor forma de retirar a crosta é molhá-la e lentamente retirá-la, depois secar a zona e amaciá-la com um pouco de vaselina.

"Não se deve deixar que a crosta amadureça de mais porque aumenta a cicatriz", diz Mark Davis, professor de dermatologia da Mayo Clinic (EUA) que lida com crostas e pele frágil a toda a hora. "Esse é o consenso geral".

Anahad O'Connor, de 27 anos de idade, nasceu e vive em Nova Iorque, licenciou-se em psicologia pela Universidade de Yale e é repórter do The New York Times desde 2003, cobrindo nomeadamente as áreas da ciência e da saúde. Tem ainda uma coluna semanal no mesmo jornal, a "Really?", que sai à terça-feira na secção Science Times. Quem quiser pode pôr-lhe qualquer questão sobre saúde. Basta enviar um mail para sctimes@nytimes.com e esperar pela resposta. O próprio repórter faz um apelo aos leitores do seu livro para lhe enviarem "uma pergunta persistente sobre saúde que tem andado a incomodá-lo e que gostaria de ver respondida".