O jornalista Anahad O'Connor, do 'The New York Times', reuniu num livro com um título bem humorado as respostas científicas às perguntas que todos nós fazemos sobre a saúde e o mundo que nos rodeia. E desfaz muitos dos mitos que andam na nossa cabeça desde a infância.
Clique para ler Ciência com humor, onde, até dia 30 de Janeiro, publicaremos a resposta a uma pergunta. Aproveite e deixe a sua opinião.
3. As máquinas de abdominais são a melhor forma de tornar os músculos fortes?
Há muitas pessoas que parecem acreditar nisso, mas a verdade é que, não falando na lipoaspiração, reduzir gorduras localmente é impossível. Quando ganhamos peso, acrescentamos gordura a certas secções dos nossos corpos antes de a acrescentar noutro lado, e o sítio para onde ela vai é determinado pelo género e pela genética.
Tipicamente, as mulheres ganham peso primeiro em volta das ancas e das coxas, enquanto os homens têm mais probabilidade de armazenar gordura em volta das secções médias, dando-lhes aquela aparência de pneu velho. O que acontece é que quando ganhamos alguns quilos, o peso dessas zonas é, em geral, o último a perder-se.
Também ajuda ter em mente que a maior parte dos exercícios abdominais irá fortalecer os músculos, mas têm pouco impacte nos depósitos de gordura que os recobrem. Tal como fazer elevações laterais das pernas não irá desfazer a gordura das ancas, fazer apenas exercícios abdominais não irá queimar a gordura em volta da cintura.
O melhor regime para uma cintura definida não implica apenas exercício abdominal. O melhor será combinar dieta e muito exercício cardiovascular - para diminuir toda a linha de gordura do corpo - com os vulgares exercícios de abdominais.
Então, e todos aqueles aparelhos caros anunciados na televisão? Um estudo de 2004 feito por uma equipa de investigadores da Kansas State University (EUA) descobriu que provavelmente não estão a obter os resultados que queriam.
Na experiência, um grupo de 23 rapazes e raparigas, estudantes universitários, fizeram exercícios com vários aparelhos - incluindo os populares "rollers" e "sliders" - ao mesmo tempo que vários eléctrodos mediam o estímulo dos seus músculos abdominais. Os eléctrodos mostravam que em média os vários produtos não produziam maior actividade muscular do que os abdominais básicos tradicionais.
Com efeito, dois dos aparelhos, o "ab slide" e um tipo de bola suíça chamada "FitBall", provocavam mais actividade nos flexores da anca do que na barriga, uma coisa a que os investigadores chamaram "uma característica indesejável dos exercícios abdominais". Simples - e grátis -, as flexões abdominais deviam chegar muito bem, depois de uns minutos na passadeira rolante, claro.
Anahad O'Connor, de 27 anos de idade, nasceu e vive em Nova Iorque, licenciou-se em psicologia pela Universidade de Yale e é repórter do The New York Times desde 2003, cobrindo nomeadamente as áreas da ciência e da saúde. Tem ainda uma coluna semanal no mesmo jornal, a "Really?", que sai à terça-feira na secção Science Times. Quem quiser pode pôr-lhe qualquer questão sobre saúde. Basta enviar um mail para sctimes@nytimes.com e esperar pela resposta. O próprio repórter faz um apelo aos leitores do seu livro para lhe enviarem "uma pergunta persistente sobre saúde que tem andado a incomodá-lo e que gostaria de ver respondida".