O jornalista Anahad O'Connor, do 'The New York Times', reuniu num livro com um título bem humorado as respostas científicas às perguntas que todos nós fazemos sobre a saúde e o mundo que nos rodeia. E desfaz muitos dos mitos que andam na nossa cabeça desde a infância.
Clique para ler Ciência com humor, onde, até dia 30 de Janeiro, publicaremos a resposta a uma pergunta. Aproveite e deixe a sua opinião.
5. Os antitranspirantes causam cancro?
Pensem melhor. O boato deve ter pelo menos alguma verdade nele. A preocupação geral é que os antitranspirantes contêm químicos tóxicos que, ou se infiltram na pele naturalmente, mesmo que seja em quantidades microscópicas, ou escorrem para dentro do corpo a uma velocidade comparativamente vertiginosa através de cortes e arranhões causados pela lâmina de barbear.
Os químicos que obtêm a maior parte da culpa são os chamados parabenos, um tipo de conservantes utilizado não só em desodorizantes e antitranspirantes, como também em muitos alimentos e produtos farmacêuticos.
Como os parabenos têm demonstrado imitar a actividade do estrogénio, e o estrogénio é conhecido por fazer disparar o crescimento das células cancerígenas da mama, muitos cientistas estão convencidos de que a exposição a eles pode aumentar as probabilidades de uma pessoa desenvolver cancro da mama.
Um estudo do tecido mamário cancerígeno feito em 2004 veio juntar achas à fogueira dessa teoria, quando foi demonstrado que num grupo de amostras de tecido tiradas de tumores mamários humanos a maioria continha parabenos.
Um segundo estudo um ano mais tarde deu outro impulsoà teoria quando observou centenas de sobreviventes de cancro da mama e descobriu que aquelas que rapavam os pêlos e usavam mais antitranspirantes tinham sido diagnosticadas com cancro da mama nas idades mais jovens.
Parece tudo muito sombrio. Mas antes de deitar fora as suas lâminas e desodorizantes, é importante sublinhar todas as falhas na investigação que defende haver uma ligação. O estudo do parabeno, por exemplo, falhou ao não observar tecido mamário saudável ou tecidos de outras partes do corpo para confirmar que o químico é encontrado apenas em mamas com cancro.
Também não conseguiu identificar de onde é que vinham exactamente os parabenos, e se as mulheres das quais tinham sido retiradas as amostras eram utilizadoras regulares de antitranspirantes.
Um grande estudo no 'Journal of the National Cancer Institute' (EUA) observou 1500 mulheres e não encontrou qualquer relação entre antitranspirantes e cancro da mama. E as mulheres que disseram, especificamente, que rapavam as suas axilas com regularidade e usavam desodorizante ou antitranspirante no período de uma hora depois de se raparem, não mostraram maior risco.
A repetição é a pedra de toque da boa ciência. Ainda é demasiado cedo para dizer se esta teoria faz sentido ou não, mas só com um grande estudo a sugerir uma ligação e um outro, ainda maior, a dizer que não existe parece que a teoria ainda está só a andar nas patas de trás. Até agora a American Cancer Society e o National Cancer Institute dos EUA disseram que as provas são fracas e não são adequadas para apoiar uma ligação causal.
Anahad O'Connor, de 27 anos de idade, nasceu e vive em Nova Iorque, licenciou-se em psicologia pela Universidade de Yale e é repórter do The New York Times desde 2003, cobrindo nomeadamente as áreas da ciência e da saúde. Tem ainda uma coluna semanal no mesmo jornal, a "Really?", que sai à terça-feira na secção Science Times. Quem quiser pode pôr-lhe qualquer questão sobre saúde. Basta enviar um mail para sctimes@nytimes.com e esperar pela resposta. O próprio repórter faz um apelo aos leitores do seu livro para lhe enviarem "uma pergunta persistente sobre saúde que tem andado a incomodá-lo e que gostaria de ver respondida".