Os corpos que com ela cresceram, no sonho e na fantasia, sentem-lhe a morte como sua, que em parte o foi e é, pois que no perecimento de Jo Raquel Welch, nascida como Jo Raquel Tejada e falecida em Los Angeles na quarta-feira, de breve doença, vai também algo de nós, daquilo que em nós é hoje resto e memória, lembrança apenas, inscrita nas profundezas do espírito, quiçá mais da carne, e vaga e difusa decerto, mas nem por isso menos intensa e íntima, só nossa, até ao dia.
No seu tempo, o século já passado que com ela partilhámos, não faltou quem lhe censurasse a excessiva exposição das formas e da escultura, o biquíni feito de peles, literal e metaforicamente, com que se apresentou em “Quando o Mundo Nasceu”, de 1966, esmagando plateias boquiabertas, que assim ficaram durante anos, sôfregas e esbugalhadas, tal a sucessão de filmes, séries televisivas, presenças em palco e até discos gravados, em single e em LP (parênteses: o tema do biquíni de coiro, legítimo e importante, merece entrada própria e deveras longa na Wikipédia inglesa, onde se explica que o dito, e o papel adjacente, foram inicialmente oferecidos a Ursula Andress, que quatro anos antes já tinha feito o bonito com a tanga branco-marfim de Dr. No, a estreia de James Bond, e que o criador da ínfima peça, muito galardoado, se inspirou na Idade da Pedra, por certo intuindo as pulsões cavernícolas dos seus fãs, como o crítico do “The New York Times”, que qualificou o fato-de-banho como “a marvellous breathing monument to womankind”, frase hoje passível de lapidação ou fogueira).