Da Terra à Mesa

Fogaça é sinónimo de cultura e devoção em Santa Maria da Feira

De formato cónico, com quatro bicos, de sabor doce, com notas de canela e limão, a Fogaça é o emblema gastronómico de Santa Maria da Feira e um símbolo de devoção. Diogo Almeida, proprietário da Confeitaria Castelo, conta-nos a história da sua casa e o processo de produção deste ícone. “Da Terra à Mesa” é um projeto Boa Cama Boa Mesa que dá a conhecer os produtos portugueses a partir de histórias inspiradoras e de sucesso, desde a produção até ao consumidor, em casa ou no restaurante

Fogaça
CM Santa Maria da Feira

Tradicional de Santa Maria da Feira, a fogaça é um pão doce com um formato que remete para a torre de menagem do castelo da cidade e as suas quatro torres e representa o voto dedicado a São Sebastião, anualmente celebrado na Festa das Fogaceiras, a 20 de janeiro. É produzida e vendida em vários estabelecimentos, como a Confeitaria Castelo, nas mãos de Diogo Almeida desde 2009. “Esta casa abriu em 1943, em plena guerra, e pertencia à família Araújo, uma família aqui da Feira”, conta. Em 1968 foi vendida ao pai de Diogo, que trabalhava na confeção ao fim-de-semana. “Eu só tinha dois anos, mas a minha vida foi passada sempre aqui”, esclarece o atual proprietário, que lá começou a trabalhar em 1991. “Quando foi preciso, já sabia o que a casa gastava. Menos de um mês depois de eu estar a fazer o fabrico, os meus pais adoeceram e eu tive que fazer tudo sozinho.”

A zona de produção, onde tudo ainda é feito de forma tradicional, está à vista dos clientes, especialmente os turistas, que gostam de ver como é confeccionado este ícone da cidade, com Indicação Geográfica Protegida desde 2016, estando a área geográfica de produção circunscrita ao concelho de Santa Maria da Feira.

Confeitaria Castelo

Tempo é um dos ingredientes fundamentais

“A correr muito bem, o processo demora, no mínimo, três horas e meia”, atira Diogo. Feita com farinha de trigo, ovos, fermento de padeiro/levedura fresca, água, açúcar, manteiga, canela, sal e sumo e raspa de limão é, na Confeitaria Castelo, cozida num tradicional forno a lenha, em vários tamanhos, chegando a maior a atingir quatro quilos e meio. “É a mais saborosa porque fica mais tempo no forno”, diz, o que lhe confere um sabor e uma textura característicos.

Até lá chegar, a preparação passa por várias fases: “amassar, puxar a massa em rolo e espalmar em gravata, até ao enrolar em cone, que culmina com o corte que estiliza a parte superior”. As explicações estão descritas no Caderno de Especificações, desenvolvido pelo Agrupamento de Produtores de Fogaça da Feira, cujo objetivo passa por “promover o intercâmbio e a cooperação com associações e organismos nacionais e estrangeiros que prossigam objetivos similares, bem como organizar grupos de trabalho para a investigação da produção e comercialização do produto Fogaça da Feira”.

Confeitaria Castelo

Do mesmo modo, reforçar a orientação para o mercado e aumentar a competitividade é uma das medidas da PAC para o período compreendido entre 2023 e 2027. “A maior parte das pessoas tem medo da concorrência. Eu acho que se formos muitos, mas todos fizermos bem, estamos a ajudar a preservar e a defender o produto”, admite. No entanto, lembra a importância da precisão no uso e na qualidade dos ingredientes. “Se souber a canela ou a limão, é porque tem limão a mais ou canela a mais. Para mim, uma boa fogaça tem os paladares todos, mas sem que nenhum sobressaia.”

A sustentabilidade social, ambiental e económica na agricultura e nas zonas rurais são linhas orientadoras da PAC - Política Agrícola Comum que, em Portugal, tem como objetivos principais valorizar a pequena e média agricultura, apostar na sustentabilidade do desenvolvimento rural, promover o investimento e o rejuvenescimento no setor agrícola a a transição climática no período 2023-2027.

“Da Terra à Mesa” é um projeto Boa Cama Boa Mesa que dá a conhecer os produtos portugueses a partir de histórias inspiradoras e de sucesso, desde a produção até ao consumidor, em casa ou no restaurante.