Para um português tradicionalmente habituado a só ver coisas geladas na ponta de um pauzinho ou dentro de um cone, no pico do verão e rodeado de areia e de mar, a ideia de subir uma montanha gelada e despencar por aí abaixo a toda a velocidade parecia, até há relativamente pouco tempo, relativamente patusca. Mas os tempos são outros e as férias já incluem mais que areia e mar. No imaginário lusitano, o frio já tem mais que contar que os simples 'olá fresquinhos' que se comem na praia. As férias de frio vieram para ficar e, se nos anos 80 contavam-se pelos dedos os portugueses que esquiavam, já não estamos longe de um dia poder dizer que se contarão pelos dedos os que nunca experimentaram esquiar. Por isso, e porque tristezas não pagam dívidas (e um sorriso pode reputadamente atrasá-las), eis aqui uma mini-lista de destinos de esqui para todos os gostos e quase todas as carteiras.
Para a família
Beitostølen, Noruega
Para os amantes do esqui cuja família cresceu e as oportunidades de um esqui relaxado e estimulante encolheram, a Noruega chega-nos como um destino contracorrente. No reino da Noruega o esqui é uma atividade literalmente vertical a todas as idades. Há, por isso, algumas estâncias com todo o sistema afinado para fazer a felicidade das famílias em férias de neve. A estância de Beitostølen ressalta pela feliz concordância de geologia, infraestruturas e qualidade de neve; fica nos limites do "teto da Noruega", o Jotunheimen, um maciço montanhoso onde se eriçam mais de 250 montanhas com mais de 1900 metros de altitude. Para além do esqui, pode-se fazer dog-sledding, tobogã, caminhadas com raquetes de neve, mini snowmobiles, snow rafting, atividades de neve infantis, etc. Na estância existem 9 lifts para cerca de 20 km de pistas, maioritariamente verdes. Em Beitostølen até o aprés-ski é orientado para as famílias, sendo mais fácil encontrar pais relaxados que esquiadores alucinados.
Como chegar: Chega lá pela mão da TAP, e da Wideroes Flyvelselskap, via Oslo até Sogndal.
Preço: Férias de cinco noites no Radisson Blu Resort, €1850, incluindo forfaits (consulte polis.pt para mais pormenores).
Para excêntricos
Vail, Colorado, Estados Unidos
Vail é uma das aldeias mais famosas do mundo do esqui e foi literalmente construída - em 1966 - para o esqui (a aldeia nasceu quatro anos depois da estância!). Tem a segunda maior montanha esquiável dos EUA e um aprés-ski tão mítico como a qualidade das suas pistas e da sua neve. Não é para esquiadores que queiram economizar; os passes em Vail são considerados os mais caros do mundo. É a primeira zona de esqui do planeta com um sistema de informação total, global e a tempo-real. Em vez de um passe clássico dão-lhe um cartão com um emissor de rádio (RFID) que lhe abre as portas a todas as pistas e que guarda online todas as informações sobre os seus dias de esqui, que poderá partilhar com os amigos através do Facebook. É a realidade aumentada a chegar às pistas.
Como chegar: Apanhe a America Airlines até Vail, via Londres e Chicago.
Preço: Sete noites em quarto duplo e viagem custará €2230; os forfaits são à parte, rondando os €450/7 dias (consulte polis.pt para mais pormenores).
Para os poupados
Soldeu, Andorra
Andorra, aconchegada nos Pirenéus que separam Espanha de França, continua a ser um dos destinos mais baratos da Europa; para os portugueses, tem o valor acrescentado e óbvio de estar suficientemente perto para ir de carro e suficientemente longe para se chamar "viagem". Soldeu é considerada uma das melhores áreas de esqui em Andorra, com bons preços, excelente escola e um aprés-ski repleto de bons bares e, eventualmente, de boas companhias. A recente ligação com Pas de la Casa/Grau Roig tornou este conjunto de estâncias num complexo esquiável com 186 km. Riba Escorxada, Tosa dels Espiolets, Tossal de la Llosada e as pistas acima de Canillo esperam pelo esquiador português que gosta de andar perto de casa, com esqui ao nível do melhor que há no mundo.
Como chegar: Apanhe o voo da Vueling até Barcelona.
Preço: Ficando no Hotel Euroski durante cinco noites, pode fazer férias de neve por cerca de €950, incluindo o forfait (consulte polis.pt para mais pormenores)
Para os aventureiros
Bohinj, Eslovénia
Reza a lenda que, enquanto distribuía a terra que tinha acabado de criar, Deus apercebeu-se de que se esquecera de um pequeno grupo de pessoas que, ao contrário dos outros que pediam e reclamavam mais e mais, se mantinham em silêncio piedoso. Cativado pela sua modéstia e paciência decidiu assim entregar aos eslovenos desta região dos Alpes Julianos a sua mais bela criação: Bohinj. Este complexo de esqui, situado sob um gigantesco glaciar, possui um total de 92 pistas e um único passe permite aceder às estâncias de Bled, Kobla, Kranjska Gora, Krvavec, Stari Vrh, Vogel e a curiosamente otimista Soriska Planina. Os hotéis na Eslovénia são claramente mais baratos que no resto da Europa e o esquiador mais aventureiro não deixará de encontrar razões de sobra para desenhar nestas pistas umas férias inesquecíveis.
Como chegar: Pode voar com a Swiss via Zurique até Ljubliana.
Preço: A viagem com estadia de cinco noites ronda os €1170; os forfaits rondam os €120 para o mesmo período (consulte polis.pt)
Para quem procura charme
Igls, Áustria
A pouca distância da "capital dos Alpes", Innsbruck, Igls - que para nós tem o valor acrescentado de ser uma terra sem vogais - proporciona uma combinação perfeita entre o charme clássico e sofisticado europeu, e o acesso às melhores estâncias de esqui do mundo. No total, na cénica tranquilidade dos Alpes estendem-se 295 km de pistas para todos os gostos e todos os níveis técnicos. Quem queira fazer uma pausa da vertigem da velocidade branca, pode ir até Bergisel dar uma mirada nos saltos de esqui e o aprés-ski faz-se melhor mesmo ali ao lado, em Innsbruck. Os mais aventureiros poderão ainda dar uma voltinha de Bobsled Olímpico, o fórmula um dos veículos movidos a gravidade.
Como chegar: Pela Lufthansa, via Frankfurt para Innsbruck.
Preço: Ficando no Hotel SportHote ficar-lhe-á a viagem por cerca de €1650 (incluindo o forfait).
Para os profissionais
Chamonix, França
Chamonix é um dos locais mais míticos da história do esqui e montanhismo mundial. A primeira estalagem dedicada ao turismo de montanha abriu aqui em 1770 e, decorridos apenas 16 anos, já o vizinho Montblanc tinha sido conquistado por ávidos alpinistas. O seu primeiro hotel de luxo foi construído em 1816 e foi em Chamonix que se fizeram os primeiros Jogos Olímpicos de Inverno, em 1924. O vale de Chamonix possui 12 áreas de esqui, adequadas a todos os níveis e capacidades do esquiador português seleto. Chamonix é uma das catedrais do esqui mundial, e um esquiador que se preze (e que não conte os tostões) não pode deixar de explorar este cantinho onde a aventura e a sofisticação europeia andam alegremente de mãos dadas.
Como chegar: A melhor forma de lá chegar será pela TAP, num voo para Genebra.
Preço: Ficando em apartamento duplo durante cinco noites, fica-lhe a viagem por cerca de €1125, com preços médios de €220 de forfait para o mesmo período (consulte a polis.pt para mais pormenores).
Para os puristas
Bansko, Bulgária
Fechamos esta lista com um destino para aventureiros temerários, que se impressionem mais com a qualidade da neve e da natureza do que com... o resto. Em 2010, a Lonely Planet colocou a Bulgária em quinto lugar dos seus 10 destinos de topo para 2011. Bansko fica no sul, a uma distância de 160 km de Sófia, ao lado do Parque Nacional de Pirin. É uma pequena povoação com excelentes hotéis, excelentes pistas de esqui, tudo a preços ridiculamente baixos para os padrões a que os esquiadores no resto da Europa se habituaram. Para quem goste de história, a Mésia, a Trácia e a Macedónia, que tanta dor de cabeça deram aos romanos nos tempos do seu Império, ficavam aqui no lugar que hoje chamamos Bulgária. A Europa cresceu, mas também encolheu, e a queda do muro de Berlim foi já há muitos anos. Para além dos russos, os britânicos, irlandeses, gregos, já contam há algum tempo com Bansko como destino de esqui bom e barato; não há por isso grande razão para que nós - que afinal demos novos mundos ao mundo - não o façamos também.
Como chegar: Vá com a Lufthansa via Munique até Sófia.
Preço: Ficando no Hotel Kempinski Grand Arena (5*) pode fazer umas férias de cinco noites por cerca de €1070/pessoa, incluindo o forfait (consulte www.polis.pt para mais pormenores).
Para quem foge do avião
San Isidro, Espanha
Aqui mesmo à distância de um meio depósito, há uma estância que não está nos roteiros dos esquiadores portugueses mas devia: San Isidro, nas montanhas Cantábricas das Astúrias. As desvantagens de um esqui menos espetacular e radical são claramente compensadas pela proximidade e, acima de tudo, pela possibilidade de conhecer melhor as delícias geográficas e gastronómicas dessa região espanhola tão pouco falada mas tão aliciantemente rica. A estância está bem equipada e tem cerca de 24 km de área esquiável; em meados deste mês de dezembro as condições eram excelentes, com 7 lifts a funcionar e 10 pistas abertas. A escola de esqui é excelente e dispõe de 60 instrutores. San Isidro é perfeito para quem queira ir experimentar a ver se gosta e um bom sítio para 'descongelar' os esquis sem desembolsar formalmente o equivalente a umas "férias na neve", porque até os forfaits são baratos.
Como chegar: Vá de carro.
Preço: Procure ficar no Hotel Rural El Fundil (cerca de €60/noite). Os forfaits rondam os €25/dia, mas pode comprar um passe de 5 dias por pouco mais de €70.