Sociedade

Venha comemorar os 25 anos da rua mais famosa do mundo

Ensinaram a conhecer os números e as letras, acompanharam o crescimento de uma geração, tornaram-se num símbolo e ainda hoje são recordados com saudade. Será que ainda se lembra onde fica a "Rua Sésamo"? O Monstro das Bolachas, o Egas, a Guiomar e a Carolina voltam a habitá-la 25 anos depois. Nós garantimos, vai sentir saudades da infância.

Algumas das personagens da Rua Sésamo, um programa ainda hoje recordado com saudade
Andrew H. Walker/Getty Images

Expresso

 "O sol nasceu/ Como está/ Lindo céu/ Lá vou eu, vem tu daí também/ Aprender como se vai até à Rua Sésamo." Prepare-se, pois esta música voltará a ecoar na sua cabeça. Esta quinta-feira recordamos um vegetal mágico que era impingido às refeições, um pato de borracha que flutuava nos banhos e uma música que se tornou num hino de uma geração. O universo da "Rua Sésamo" é relembrado no dia em que se comemoram os 25 anos do primeiro episódio.

A série estreada nos Estados Unidos em 1969 chegou a Portugal vinte anos depois, sob a mão da Children Television Workshop. Mas em 1976 a RTP já tinha comprado um compacto da "Rua Sésamo", chamado "Abre-te Sésamo", que contou com a participação das vozes de João Perry, Manuel Cavaco, Irene Cruz e José Gomes.

Em 1987 começam as negociações para comprar o formato da "Sesame Street". Durante três anos, especialistas de várias áreas do desenvolvimento infantil participaram em seminários e workshops para discutir os objetivos educativos do programa.

Teresa Paixão, responsável pela programação infantil da RTP, escreveu e produziu grande parte dos episódios numa altura em que "não havia escolaridade pública pré-escolar. Antigamente, as crianças só podiam ir para a escola pública a partir dos seis anos, e agora já podem a partir dos três", afirma ao Expresso.

Durante os setes anos, e as quatro séries, em que a "Rua Sésamo" esteve no ar, crianças dos três aos cinco anos sentavam-se à frente da televisão todos os dias, às 19h30, para durante trinta minutos aprenderem de uma forma divertida. Em Portugal eram produzidos 12 minutos de cada episódio. Dez minutos no estúdio e dois minutos de animação e de imagens reais. "Nunca produzimos os segmentos só de bonecos manipulados, essa parte vinha toda dos Estados Unidos, à exceção do Ferrão e do Popas", refere Teresa Paixão.

Maria Emília Brederode dos Santos, diretora pedagógica das quatro séries produzidas, considera que houve "um cuidado pela componente pedagógica e pelo foco na imagem; por exemplo, se estivéssemos a contar cinco bolos, tínhamos de ter o cuidado para não mostrar só três".

Segundo Teresa Paixão, a chave do sucesso resumia-se a três fatores fundamentais: "O primeiro, o programa ser muito bom e os pais perceberem que as crianças aprendiam com ele. O segundo, por ser muito colorido e com pequenos segmentos, estando a atenção da criança a ser sempre estimulada. E, por último, é importante perceber que na altura não havia mais nenhuma televisão. Só a RTP é que existia".

Para a maioria dos atores que deram vida às personagens, grande parte do sucesso devia-se à componente didática do programa. Para Manuel Cavaco, o Monstro das Bolachas, "o fundamental era o sentido pedagógico que era dado ao divertimento". Já Lúcia Maria, que interpretava a personagem Carolina, considera a 'Rua Sésamo' "um programa extremamente ancorado e rigoroso, que assenta num modelo de aprendizagem: aprender a brincar, que é a forma mais direta e eficaz de as crianças aprenderem".

Um programa tão enriquecido em termos de conteúdo "não se faz com pouco dinheiro", refere Teresa Paixão. "Quando fizemos a 'Rua Sésamo', a ideia era aprender a produzir um programa educativo para Portugal, e acho que esse objetivo foi atingido".

 

Os habitantes da "Rua Sésamo"

Para Alexandra Lencastre, este foi o primeiro projeto de grande envergadura em que a atriz participou. Interpretava Guiomar, a neta do senhor Almiro e a melhor amiga do Popas e do Ferrão, "fazia o papel da jovem mediadora entre as crianças e os adultos", recorda ao Expresso.

"É uma memória muito longínqua e simultaneamente presente, pelo feedback que ainda hoje tenho de toda uma geração que aprendeu a ler e a contar com a 'Rua Sésamo'". A atriz considera que este projeto foi fundamental na sua carreira como artista e recorda com saudade um programa que primava pela qualidade.

Manuel Cavaco lembra-se que teve de aprender para poder ensinar. O então  Monstro das Bolachas relembra que "foi um trabalho muito agradável e que faz falta, do ponto de vista didático, às crianças de hoje em dia".

Lúcia Maria considera que este foi um dos projetos mais gratificantes em que participou. A atriz que fazia de Carolina recorda "a ternura que havia entre os escritores, os atores e a equipa técnica, havia um ambiente muito bom. E sabíamos que estávamos a fazer serviço público".

O mais gratificante para Rui de Sá, que deu voz a uma das personagens centrais, é "ver as crianças a pedir para comprarem o Egas. Dei vida à personagem, mas o Egas cresceu comigo", sendo um dos bonecos mais emblemáticos do universo da "Rua Sésamo". O ator relembra ainda a importância de António Feio no projeto. "Foi ele quem dirigiu os atores, foi um legado que nos deixou".

Mais do que um programa televisivo, a "Rua Sésamo" foi uma escola tanto para a geração que a acompanhou como para toda a equipa que lhe deu forma. Se recordar é viver, só por hoje volte à "Rua Sésamo" e cante: "Vem brincar/Traz um amigo teu/E ao chegar tu vais poder também/ Ensinar como se vai até a Rua Sésamo".