Ensino

Fernando Alexandre: “Arrependimento? Não. A minha intervenção mostra que havia um problema dentro da Universidade do Porto”

O ministro da Educação afirmou que não se sente arrependido de ter mostrado disponibilidade para abrir vagas extraordinárias na Faculdade de Medicina do Porto para 30 alunos que não tiveram nota mínima para entrar no concurso especial de acesso para licenciados. Também afirmou, apesar das declarações da FENPROF, que “a generalidade das escolas tem os professores todos”

Fernando Alexandre, ministro da Educação, Ciência e Inovação
TIAGO PETINGA/LUSA

O ministro da Educação, Ciência e Inovação disse, esta sexta-feira, não estar arrependido de se ter mostrado disponível para autorizar a criação de vagas supranumerárias para os alunos do concurso especial de acesso a Medicina para licenciados (se houvesse base legal para o efeito). Em resposta aos jornalistas, Fernando Alexandre reagiu à notícia do Expresso de que o Ministério Público abriu um inquérito no seguimento de uma denúncia anónima, relativamente à possível falsificação das atas das reuniões na Faculdade de Medicina do Porto.

“Arrependimento, não. Eu acho que a minha intervenção mostra que havia um problema dentro da Universidade do Porto que não está resolvido, e estão, finalmente, a apurar responsabilidades, e foi isso que eu transmiti ao senhor reitor desde o início.” Fernando Alexandre volta, assim, a imputar responsabilidades à Universidade do Porto: “Só confirma — e vai seguir o seu curso que a Universidade do Porto é que é responsável por esta situação, e vai ter de a resolver”.

À margem da Conferência Internacional das Lajes — Açores: do Oceano ao Espaço, organizada pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, organizada pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, na Praia da Vitória, na Terceira, Fernando Alexandre reiterou também que “a generalidade das escolas tem os professores todos”.

O ministro da Educação tinha assegurado, há mais de uma semana, e a propósito do arranque do ano letivo, numa entrevista à “Antena 1”, que, em pelo menos 98% das escolas, os alunos teriam aulas a todas as disciplinas, uma vez que todos os professores estavam já colocados. No entanto, esta sexta-feira, a “CNN” dá conta da falta de professores, um problema que a Fenprof ilustra com números: “Há ainda 1307 horários por preencher, o que corresponde a 20 mil horas, a 4500 turmas, e 107 mil alunos sem professor a pelo menos uma disciplina. A situação mais preocupante é mesmo a do 1.º Ciclo. É que daqueles 107 mil alunos, cinco mil são precisamente do 1.º Ciclo. Há 200 turmas só no 1.º Ciclo que ainda não têm professor atribuído”.

Alunos sem professores é realidade residual, diz ministro

Muitos horários desses são “incompletos”, justificou o ministro da Educação, Ciência e Inovação. “Não quer dizer que os alunos estão sem aulas. Imagine, um professor ficou doente esta semana, obviamente ele não está lá esta semana, mas, na maior parte das escolas, estão a ter aulas, porque, através das horas extraordinárias e de outros mecanismos, as aulas são garantidas, é isso que está a acontecer.”

Em resposta aos jornalistas, o ministro Fernando Alexandre disse tratar-se de uma realidade residual, considerando que haverá sempre professores que estão em falta porque estão doentes, ou porque se reformaram. “Nós temos mais de 120 mil professores, e temos milhares de professores que se reformam todos os anos. (…) E, por isso, todas as semanas, ao longo de todo o ano, nós vamos ter professores que vão ser substituídos.” Há, além disso, um conjunto de escolas que não consegue atrair professores para determinados grupos disciplinares. Trata-se de escolas “concentradas na Grande Lisboa, na Península de Setúbal e no Algarve”.

Aquilo que se destaca, aclara o governante, é que se trata de “uma parte muito pequena do sistema”. Para resolver as lacunas, “estamos a desenvolver instrumentos, já o fizemos no ano passado e estamos a fazê-lo outra vez”, explicou Fernando Alexandre. O apoio à deslocação “resultou”, de acordo com o ministro, bem como o concurso externo extraordinário, que “vinculou mais de 1700 professores nessas escolas”. Por outro lado, recorrer a professores já aposentados não se revelou eficaz, admitiu o ministro: “Nós tentámos no ano passado e não funcionou. Aquilo que funcionou foi o prolongamento da carreira dos professores. No ano passado, tivemos 1500 professores que continuaram a dar aulas. Demos um incentivo de 750 euros mensais e funcionou”. Assim, segundo as contas do governante, seis mil professores foram atraídos para as escolas.

Fernando Alexandre quis ainda afastar a ideia de que o Governo é contra o direito à manifestação, depois da sua declaração de que professores em manifestações perdem a “aura” da profissão. “Não, nós somos a favor da valorização dos professores, e, connosco, esperamos que não tenham de se manifestar, porque nós valorizamos os professores.” Lembrou ainda que tem vindo a dizer que os docentes “foram maltratados durante décadas”, e que, “obviamente, por serem maltratados foram obrigados a ir para a rua”, o que “foi mau para a escola pública, como eles reconheceram”.