A data de 5 de julho de 1996 foi um marco para a história da ciência pelo passo dado no desenvolvimento da genética. O fenómeno foi o nascimento da “Ovelha Dolly”, o primeiro animal a ser clonado a partir de uma célula somática de um animal adulto.
Segundo um artigo publicado no passado dia 21 de junho no jornal oficial da “Society for Reproduction and Fertility”, a experiência provou sem equívoco a "equivalência dos genomas das células somáticas e embriónicas".
O sucesso obtido com a "Dolly" levou à produção de uma longa série de artigos científicos que revelavam o nascimento de gado geneticamente modificado gerado a partir de células somáticas geneticamente modificadas.
A "Dolly" foi a primeira ovelha a ser clonada de uma ovelha adulta. O processo implicou retirar o material genético da célula desse animal adulto introduzindo-o de seguida no óvulo não fecundado de uma terceira ovelha provocando, assim, uma gravidez e produzindo um clone.
Em 1997, numa apresentação à imprensa internacional da "Dolly" adulta, os cientistas exprimiam a convicção de que ela seria uma ovelha absolutamente normal e saudável, o que só o tempo viria a provar, conforme atesta uma reportagem da BBC da altura.
Detratores há um quarto de século chamavam ao método de reprodução “tecnologia do século XX com mentalidade da Idade Média” ao achar que os animais existem para que o homem faça deles o que melhor lhe aprouver. Reconhecendo o sofrimento que tais experiências podem provocar nos animais, eles defendiam que a pergunta não deveria ser “podemos fazer?”, mas “deveríamos estar a fazer?”.
Artrite ou não artrite, eis a questão
Em 2017, a "Dolly" voltava às manchetes quando surgiu a suspeita de que sofreria de artrite precoce nas articulações.
Até à sua morte, em fevereiro de 2003, a ovelha "Dolly" permaneceu a mais famosa de todos os tempos, disputando manchetes e artigos científicos a outras áreas científicas. Para o sucesso desta ovelha falharam antes 277 experiências. O escrutínio de que se transformou alvo deveu-se ao receio de que os animais clonados pudessem desenvolver problemas de saúde específicos ou envelhecer prematuramente.
Perante as suspeitas de artrite precoce, uma equipa de investigadores da Universidade de Nottingham voltou a examinar o esqueleto da ovelha em 2017. “Tínhamos de confirmar todos os registos e saber até que ponto estava mal”, explicou à BBC o Prof. Kevin Sinclair, para concluir que o seu estado “era muito semelhante ao de qualquer outra ovelha da sua idade que tivesse sido concebida naturalmente”.
Um estudo datado do ano anterior, 2016, das ovelhas "Debbie", "Denise", "Dianna" e "Daisy", derivadas da linha de células que produziu a "Dolly", encontrou provas de osteoartrite leve e, num caso, moderada.
Como resultado das observações “concluímos que as suspeitas de que a clonagem tivesse provocado osteoartrite precoce eram infundadas”, conclui a Prof. Sandra Corr.
A produção da ovelha "Dolly" pela equipa de cientistas liderada por SIr Ian Wilmut foi uma descoberta fundamental na história da engenharia genética e uma janela aberta para novos métodos de tratamento de doenças incapacitantes. Os críticos não pararam de alertar para a porta que se abriu ao mesmo tempo para a clonagem humana.