"Os saudáveis e capazes não têm o direito de legalizar esta possibilidade imoral." É assim que, em comunicado, o Grupo de Trabalho Inter-Religioso para as questões de Saúde classifica o projeto de legalização da eutanásia, em vias de aprovação na Assembleia da República.
Tal como há dois anos - altura em que o cardeal patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente promoveu a assinatura de uma declaração conjunta das várias religiões contra a morte assistida - esta quarta-feira, nove representantes de outras tantas confissões religiosas presentes em Portugal decidiram tomar posição pública.
Fernando Sampaio, capelão do Hospital de Santa Maria e representante da Igreja católica no Grupo Inter-religioso, assumiu ao Expresso que a intenção dos subscritores é a de "fazer um apelo à consciência dos deputados". E "se a consciência dos deputados for além da ideologia, as coisas podem mudar", afirma.
A defesa dos cuidados paliativos para fazer face às situações de enorme sofrimento e de final de vida é o mote principal do comunicado, mas subiu o tom com que se referem os projetos em debate parlamentar. "Neste momento crítico para a existência dos frágeis", sublinham os signatários, a aprovação da nova proposta legislativa "constituiria um tremendo e grave ato de demissão coletiva face aos membros mais vulneráveis da sociedade".
"Não é sensato, nem legítimo, conduzir o processo em curso do modo que ele está a ser conduzido", afirmam, anunciando desde já terem sido pedidas audiências "com caráter de urgência" ao Presidente da República, Presidente do Parlamento e à Comissão Parlamentar de Saúde. O objetivo é "manifestar a nossa perplexidade" e "partilhar a nossa preocupação pelos equívocos e ambiguidades do presente processo".