Pedro Paixão abre a porta, a casa é um foco de luz ajardinado e repleto de quadros. Telas que se amontoam contra os móveis, em cima das mesas, dos sofás. Competem com os livros que também esticam os tentáculos, às pilhas no chão quando não cabem nas estantes. Tintas, panos, telas, livros, um piano: este é o quotidiano de um homem que se isolou e, diz, não tem saudades da fama. Membro fundador de “O Independente” em 1988 e escritor da moda nos anos 1990, professor de Filosofia na Universidade Nova de Lisboa, fotógrafo e grande curioso por tudo o que se lhe apresente, desapareceu de cena e mudou de editora, e desistiu de ensinar. Mas nos últimos 14 anos andou a escrever um livro que não se parece com nada do que tinha feito antes. Nem com nada saído no panorama português. “Desvio da Memória”, publicado pela Glaciar, é um portento de erudição que lhe tirou o sono e o deixou semanas, meses, em completa solidão. “Pus-me a investigar, a aprender. E aquilo foi aumentando”, comenta. Sabe que é polémico, que não é um regresso de mansinho. Mas de outro modo não seria dele. Em setembro e outubro três reedições de livros seus o esperam. “Fico contente, mas receio que não se venda nada. Porque as pessoas mudaram.” O que aqui se publica é o essencial de uma conversa que atravessou várias horas e temas com um homem que, ao contrário de Sócrates, perdeu a ilusão de se conhecer a si mesmo.
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“Separei-me três vezes da minha mulher por causa deste livro”: Pedro Paixão quebra silêncio e explica regresso
Há anos que vive recluso, publicando pouco numa pequena editora — ele que sentiu o sabor da fama e foi um escritor da moda. Agora sai do silêncio com um longo e polémico ensaio de 800 páginas. “Desvio da Memória” é um retorno e um ponto final, como explica ao Expresso na primeira entrevista em quase uma década