Esta reportagem começou no final do Verão de 2023, à beira do rio Sever, a olhar para a encosta acabada de arder do castelo de Marvão, no Alentejo. Ao escutarmos os boatos de fogo posto que corriam nas margens do rio, surgiu a pergunta: “O que leva uma pessoa a sair de casa e deitar fogo a tudo o que a rodeia?” A consulta de 289 artigos sobre incendiarismo, publicados nos media entre 2015 e 2023, não ajudou a encontrar respostas — não havia uma única história de vida, uma reportagem aprofundada. O que se podia ler eram meras cópias dos comunicados da Polícia Judiciária (PJ) quando apanha uma pessoa e a leva presa. Sobre as motivações dos incendiários e o que lhes passava pela cabeça, nem uma palavra — uma ausência que contrastava com os muitos artigos de opinião a pedir o endurecimento de penas e até a equiparação do crime de incendiarismo ao de terrorismo.
Exclusivo
Um país de incendiários: retrato dos que fazem arder Portugal
Portugal é o país que mais arde na União Europeia, e a principal causa é o incendiarismo. Uma realidade para a qual os responsáveis por criar políticas públicas não querem olhar. Contamos aqui a história de um Estado que abandonou grande parte do seu território e da sua população