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Como Portugal tentou contrariar o último desejo de Camilo Castelo Branco

Horas depois de ser noticiada a morte de Camilo, a 1 de junho de 1890, já se reclamava um túmulo no Panteão Nacional dos Jerónimos. A reivindicação tomou forma de projeto de lei na Monarquia e na República e recrutou admiradores, escritores e publicistas. Espantosamente, os debates decorreram sempre sem atender à vontade do próprio, fixada em cartas, num auto de doação e num testamento

ENTERRO Reportagem gráfica de Luciano Freire, com desenhos do cortejo fúnebre desde Seide, e que foi publicada na revista “Ocidente”, a 11 de junho de 1890
Hemeroteca Digital

Dois anos antes de disparar um tiro de revólver na cabeça, Camilo Castelo Branco suplicou a João António de Freitas Fortuna que resistisse a qualquer “força ou consideração” que tentasse impugnar a sua última e fervorosa aspiração: ser sepultado no jazigo familiar deste seu amigo, no cemitério privado da Real Irmandade de Nossa Senhora da Lapa, no Porto. “Desejo ali ser sepultado”, escreveu numa carta, a 6 de abril de 1888, apelando ao amigo que “nenhuma força ou consideração o demova de me conservar as cinzas perpetuamente na sua capela”. Foi a única disposição que deixou escrita sobre a sua morte. “Dê o meu amigo a estas linhas a validade de uma cláusula testamentária e, sendo preciso, faça que ela valha em juízo”, insistia, confiando na intrepidez de Freitas Fortuna.