O médico holandês Bernard Mandeville, que vivia em Inglaterra, publicou anonimamente em 1705 uma fábula sarcástica, “A Colmeia Resmungona, ou como Patifes se Tornaram Honestos”. Em 1714, ainda protegido pelo anonimato, acrescentou uma explicação e deu-lhe o novo título de “A Fábula das Abelhas, ou Vícios Privados, Virtudes Públicas”. No entanto, foi a edição de 1723 que se tornou famosa: o país tinha sofrido havia pouco o colapso da Companhia dos Mares do Sul, uma fraude que empobrecera milhares de investidores, e a noção de que o vício era socialmente útil indignou os lesados por aquela bolha especulativa. O seu interesse próprio levara-os à ruína. Assim, o reconhecimento do livro resultou de ser detestado pelos leitores da época e pela fúria dos seus críticos. O que apresento de seguida é como Mandeville defendeu esta “espécie de conto” e como se deu depois o estranho caso de economistas e filósofos com pensamentos opostos se terem identificado com aquela metáfora, e até buscado nela alguma legitimação para as suas teorias.
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O luxo das abelhas: como os economistas aprenderam o egoísmo
Bernard Mandeville escreveu uma fábula sobre a escolha entre o vício que conduz à prosperidade ou a virtude que nega o vício e condena a sociedade à miséria. E abriu um debate de séculos entre os maiores economistas da História