Quando chegou a Lisboa, em finais dos anos 1980, ser-se imigrante por cá era coisa rara. Não havia, na capital portuguesa, a profusão de línguas que mais tarde se lhe tornaria característica. Ao invés, os portugueses eram, aos olhos de uma estrangeira vinda da América do Sul, uns poliglotas simpáticos que a abordavam com curiosidade e tentavam compreender o ‘portunhol’ que então ela balbuciava. As preocupações relacionadas com a legalização reduziam-se a como e onde apresentar o papel certo. Talvez houvesse, aqui e ali, que armar-se de alguma paciência para enfrentar uma fila mais longa, mas pouco mais. A obtenção de autorização de residência (AR) não implicou grande desgaste a Lídia Lantos, nem a renovação nos anos seguintes, marcados apenas pela transição da AR ‘normal’, de revalidação quinquenal, para uma AR permanente, válida por uma década.
Exclusivo
Sem permissão para viver: o limbo dos imigrantes que não conseguem renovar a Autorização de Residência
Entre o milhão de imigrantes que vivem em Portugal existe uma nova categoria: a dos residentes com o título caducado que, impossibilitados de o renovar por absoluto silêncio do Estado, se encontram num novo ‘limbo’. Um impasse burocrático que os impede de viajar e regressar ao país, abrir uma conta bancária, arrendar um apartamento ou levantar uma carta registada nos Correios