A delino estava no quarto, a desfrutar da moleza das manhãs de domingo, quando um dos irmãos mais novos irrompeu subitamente com a notícia. “Mataram o Amílcar Cabral.” Nesse momento impôs-se a urgência de partilhar a informação com os outros. Mas não podia estar em grupo. Não mais de três pessoas, não naquele dia, ou teria a PIDE à espreita. Acabou a percorrer a Avenida da Liberdade de uma ponta à outra, várias vezes, desde manhã até ao anoitecer, com outros dois camaradas. Horas e horas a conversar para não chegarem a outra conclusão senão a de que o território onde tinham nascido perdera a esperança de se tornar país naquele sábado, 20 de janeiro de 1973. E impôs-se-lhe uma súbita sensação de orfandade. O último ano do curso de Engenharia de Eletrotecnia e Máquinas, que frequentava no Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, perdera a razão de ser. Continuar a lutar pela liberdade à distância de mais de três mil quilómetros deixara de fazer sentido. “Foi nesse dia que decidi sair.”
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Os cravos plantados na Guiné
Na Guiné, onde a guerra estava perdida e a independência declarada, nasceu o primeiro núcleo do Movimento dos Capitães. Lá se rascunhou um plano B caso o 25 de Abril falhasse em Lisboa