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50 anos do 25 de Abril

25 de Abril: Um dia, a ditadura caiu mas ficaram os seus símbolos sem que ninguém soubesse o que fazer com eles

O 25 de Abril rompeu com o Estado Novo, mas os seus símbolos permaneceram no espaço público meses ou anos sem que tenha havido uma estratégia sobre o que fazer com os despojos da ditadura. Na ânsia de construir o futuro, o país quis esquecer o passado e não investiu na evocação dos que resistiram ao regime

Busto de Salazar retirado da Câmara de Lisboa. Está num depósito fora da capital, entre centenas de peças do Estado Novo

Nos últimos dias, Graça Figueiredo andou pela casa à procura das poucas fotografias que tem da mãe, dos dossiers de papelada legal que acumulou nas décadas que se seguiram à sua morte, dos recortes de jornais que lhe contaram a desgraça familiar há mais de 45 anos. Escondeu bem o espólio, de propósito, na esperança que desaparecesse e com ele levasse a dor que ainda sente ao recordar aquele 5 de fevereiro de 1978. Era uma miúda de 16 anos a viver em Santa Comba Dão quando as ruas da vila foram tomadas por uma batalha campal, a GNR contra populares, ou o Estado contra saudosistas da ditadura, numa contenda pela reposição da cabeça da estátua de Salazar, que existia no largo fronteiro ao Tribunal.