Nos últimos dias, Graça Figueiredo andou pela casa à procura das poucas fotografias que tem da mãe, dos dossiers de papelada legal que acumulou nas décadas que se seguiram à sua morte, dos recortes de jornais que lhe contaram a desgraça familiar há mais de 45 anos. Escondeu bem o espólio, de propósito, na esperança que desaparecesse e com ele levasse a dor que ainda sente ao recordar aquele 5 de fevereiro de 1978. Era uma miúda de 16 anos a viver em Santa Comba Dão quando as ruas da vila foram tomadas por uma batalha campal, a GNR contra populares, ou o Estado contra saudosistas da ditadura, numa contenda pela reposição da cabeça da estátua de Salazar, que existia no largo fronteiro ao Tribunal.
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25 de Abril: Um dia, a ditadura caiu mas ficaram os seus símbolos sem que ninguém soubesse o que fazer com eles
O 25 de Abril rompeu com o Estado Novo, mas os seus símbolos permaneceram no espaço público meses ou anos sem que tenha havido uma estratégia sobre o que fazer com os despojos da ditadura. Na ânsia de construir o futuro, o país quis esquecer o passado e não investiu na evocação dos que resistiram ao regime